Título: Economia brasileira é a mais fechada entre os emergentes
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2007, Economia, p. B4

O Brasil é mais fechado em termos de comércio com o resto do mundo do que se calculava. Essa é uma das conclusões de pesquisa da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex), a pedido do Estado, com os novos números do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Os resultados mostram que o grau de abertura da economia encolheu de 23,9% do PIB na série antiga para 21,5% na atual, para o ano de 2006.

¿Essa taxa, que já era baixa, ficou menor. O País é mais fechado do que o imaginado. Dá para ver isso agora porque o PIB é melhor calculado. Seria bom que esse índice fosse maior¿, diz o economista da Funcex, Fernando Ribeiro.

O grau de abertura de uma economia é medido pela soma das exportações e importações, comparada com o PIB. O dado da Funcex é relativo a 2006, para o qual a entidade estimou um valor de PIB na metodologia anterior. Na prática, o País fica mais distante de outros países. Segundo a Fitch Ratings, os demais países do grupo de emergentes de grande porte, o chamado Bric (China, Índia e Rússia), têm um grau de comercialização com o mundo maior que o brasileiro.

As estatísticas da agência de classificação de risco mostram que o grau de abertura da China é de 63%, a da Rússia, de 48%, e a da Índia, de 32%. ¿Já sabíamos que se tratava de uma economia fechada. Agora vemos que é mais fechada¿, diz o diretor-executivo da Fitch, Rafael Guedes.

Levantamento recente do economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Armando Castelar já havia demonstrado que a economia brasileira, com base no seu fluxo de comércio com o exterior, estava entre as sete economias mais fechadas do planeta. Ele estima agora, com os novos dados do PIB, que a economia brasileira deve estar dentre as cinco com menor grau de comercialização comparado aos seus PIBs.

De forma simples, a taxa de abertura encolheu porque o PIB brasileiro cresceu em torno de 11%, conforme a nova metodologia do IBGE. Mas o valor da exportações e importações não se alterou. Assim, a soma da corrente com o mundo fica menor na comparação com o tamanho da economia. Para o economista da Funcex, o Brasil deveria ter um grau de abertura de pelo menos 30% do PIB.

Castelar também explica que o PIB ficou maior porque áreas do setor de serviços foram melhor medidos, como os financeiros e da administração pública. O setor reúne, basicamente, itens que não são trocados com o resto do mundo.

Uma das vantagens da corrente de comércio maior como proporção do PIB é que eventuais ajustes na balança comercial são mais fáceis, com menor pressão no câmbio. O economista do Ipea também argumenta que, embora os valores de exportação e importação estejam crescendo, o Brasil deveria se integrar mais com o resto do mundo.

Para isso, ele defende uma redução das tarifas de importação. Além da redução das tarifas, a Funcex defende melhores condições para as exportações, como redução de entraves ao investimento e da carga tributária, entre outros.

O trabalho da Funcex também mostra que, a exemplo do que ocorria na série anterior, o grau de abertura vem encolhendo desde 2004, quando atingiu o pico (24%). Nesse caso, o principal efeito é da valorização cambial, que reduz o valor em reais das exportações e importações, efetivadas em dólar. Para efeito de comparação, o câmbio em 2004 foi de R$ 2,93 na média, ante a taxa de R$ 2,18 no ano passado.