Título: Militares temiam que Argentina invadisse RS
Autor: Moraes, Marcelo de
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2007, Nacional, p. A15

No período pré-Segunda Guerra, os militares brasileiros reconheceram que o Rio Grande do Sul poderia ser facilmente ocupado pela Argentina, por conta da deficiência da malha ferroviária do Sul do País. Comunicação secreta enviada pelo Conselho de Segurança Nacional à presidência da Comissão de Estudos de Segurança Nacional, em 11 de janeiro de 1938, defende a expansão das linhas ferroviárias do País como questão de defesa do território brasileiro.

Documento preparado pelo general Francisco José Pinto, então secretário do Conselho de Segurança Nacional, simula a hipótese de uma invasão argentina ao Rio Grande do Sul e desenha um cenário extremamente negativo. 'A situação estratégica resultante das atuais possibilidades de transporte é, pois, a seguinte: em 40 dias, a contar da declaração de guerra, a Argentina poderá invadir o Rio Grande do Sul com uma massa de seis divisões de exército e três de cavalaria. E o Brasil só poderá ter nesse Estado três divisões de infantaria das quais uma em Santa Maria e três divisões de cavalaria', descreve o general.

'Em 270 dias, depois de declarada a guerra, a Argentina poderá ter no Rio Grande do Sul 12 divisões de exército, quatro de cavalaria e outros elementos. E o Brasil só poderá ter sete a oito divisões de infantaria e três de cavalaria. Quer isso dizer que dificilmente se poderá impedir a invasão do território brasileiro', continua o general no seu informe.

'E o adversário poderá progredir sem encontrar fortes resistências até mui próximo da linha férrea Cruz Alta-Santa Maria. E que, em grosso, nesse alinhamento, é que será travada a primeira batalha importante pela defesa do País. E isso mesmo com inferioridade de meios', acrescenta, para dar sua opinião final sobre o desfecho da hipotética invasão: 'A situação é extremamente angustiante. Metade do Estado do Rio Grande do Sul terá sido perdido.'

Na avaliação do secretário, a construção das linhas ferroviárias era a única saída estratégica. 'Para sanar essa situação só há um meio: aumentar as possibilidades ferroviárias de transporte para o Rio Grande do Sul e construir nesse Estado certas linhas essenciais às operações militares', afirma.

Além disso, o general se preocupa também com o tempo que a obra levaria e com a melhoria das linhas ferroviárias já existentes. 'Cabe aqui dizer que pretender melhorar a situação estratégica construindo a nova linha para o Sul sem melhorar simultaneamente a antiga é arriscar o futuro', diz.

'Tais empreendimentos devem ser, pois, levados de par com a máxima urgência', conclui.