Título: Retórica divide o país e inquieta a oposição
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2007, Internacional, p. A18
A receita político-econômica de Rafael Correa, é, por enquanto, menos radical do que a de Hugo Chávez, da Venezuela, ou Evo Morales, da Bolívia - apesar da retórica pesada e agressiva do líder equatoriano, que não titubeia em classificar de 'mafiosos' os seus antecessores e não perde uma chance de atacar a imprensa. O fato, porém, é que os primeiros meses do seu governo agradaram as suas bases, garantindo índices de popularidade em torno de 70% ou até mais, dependendo da pesquisa.
'Ele está criando um socialismo humanista e moderno', disse o arquiteto Horacio Santa Cruz, de 60 anos, que carregava uma bandeira do Equador pelas ruas de Quito, em uma manifestação pelo 'sim' na consulta popular de hoje.
No outro lado do espectro político, as realizações de Correa até agora já foram mais do que suficientes para despertar uma férrea rejeição. 'Ele está copiando o Chávez e o país está indo para o caos', atacou um juiz aposentado de 80 anos, que preferiu não se identificar.
Neste quadro, a tentativa de instalar uma Assembléia Constituinte poderá acirrar a polarização no país, com resultados imprevisíveis. A intenção de Correa é levar a cabo mudanças profundas com a nova Constituição, algumas teoricamente inatacáveis (se sinceras), como a despolitização do Judiciário e a melhoria do sistema de representação, incluindo o ponto de vista geográfico.
Outras prometem atrair uma feroz resistência, como a mudança do modelo econômico numa direção mais intervencionista - Correa rechaça a pecha de 'estatista'. Natalia Sierra, diretora da Escola de Sociologia da PUCE, observa que não necessariamente a esquerda alinhada ao presidente dominará a Assembléia, caso o 'sim' seja vitorioso. 'A Constituinte é apenas o início de um processo extremamente complexo', disse.
Na área de relações internacionais, Correa já avisou que não vai renovar o acordo de uso pelos EUA da base de Manta, que termina em 2009.
No setor de petróleo, vem bancando as reivindicações indígenas de compensações pela exploração das suas terras, mas não mexeu no papel das empresas estrangeiras. Isto inclui a Petrobrás, que participará da exploração da principal reserva equatoriana, dentro de um acordo que prevê investimentos brasileiros de US$ 1 bilhão no Equador até 2010. 'É totalmente diferente da atitude da Bolívia', diz uma fonte do governo brasileiro.