Título: Modelo de combate ao crime não se aplica ao Brasil
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2007, Internacional, p. A20

Há três semanas, os governadores Aécio Neves (MG), Sérgio Cabral (RJ) e José Roberto Arruda (DF) foram à Colômbia aprender como se faz segurança com eficácia e como usar, com êxito, as Forças Armadas em situações agudas de violência. As lições que eles aprenderam não se aplicam ao Brasil, afirmou ao Estado um alto oficial do Exército colombiano. O emprego que o governo colombiano fez das Forças Armadas não fere sua estrita função constitucional e sua vocação natural, advertiu aquele oficial.

Lá, o Exército tem sido utilizado em larga escala para tomar as estradas - onde antes pontificavam a guerrilha e os paramilitares - e mantê-las livres para o tráfego de pessoas e cargas. Eles também vigiam usinas de energia, antenas de comunicação, oleodutos e complexos industriais estratégicos.

Além disso sustentam o combate às guerrilhas nas selvas e montanhas colombianas e coordenam o trabalho de ¿desminado¿ - a detecção e eliminação das minas terrestres instaladas pelas Farc, no qual têm uma importante cooperação brasileira. As Forças Armadas enfrentam inimigos e cumprem tarefas dentro de características de enfrentar uma guerra convencional, comentam.

POLÍCIA UNIFICADA

O combate à guerrilha, aos paramilitares e ao narcotráfico tem um cuidadoso planejamento que separa as funções que devem ser cumpridas pelas Forças Armadas e pela polícia. Os militares nunca atuaram em funções policiais, mesmo na investigação, por exemplo, de atentados a bomba perpetrados nas cidades pela guerrilha. Desses casos, se encarrega sempre a Polícia Nacional. O que favorece a articulação e o êxito desse combate é que, como a Colômbia é um Estado unitário - e não uma federação, como o Brasil -, lá existe uma só polícia em todo o país.

Um general da Polícia Nacional disse ao Estado que se torna quase impossível combater nacionalmente o crime organizado ¿com duas polícias em cada Estado, principalmente quando uma não fala com a outra¿. Ele disse que essas dificuldades das polícias brasileiras foram comentadas pelos três governadores em conversas com autoridades colombianas.

Para ele, se o Brasil quiser tirar alguma lição da eficácia com que a Colômbia enfrenta a guerrilha, o narcotráfico e os paramilitares deve, em primeiro lugar, trabalhar para ter um planejamento estratégico e um comando operacional centralizado, reunindo Forças Armadas e polícias. Mas é essencial criar canais de fácil comunicação entre as polícias.

A Polícia Nacional colombiana tem estrutura militarizada e foi idealizada em um formato muito parecido com os carabineiros do Chile. Esse tipo de estrutura favorece a atuação conjunta com as Forças Armadas, pois os dois lados falam a mesma linguagem, embora tenham sido treinadas para enfrentar inimigos diferentes.

Ciosos de sua cultuada tradição democrática - fora da lógica continental, tiveram apenas uma curta ditadura militar por menos de quatro anos, entre 1953 e 1957, com o general Gustavo Rojas Pinilla -, os colombianos afirmam que a existência de uma Polícia Nacional unificada e militarizada, funcionando nos moldes das Forças Armadas, como se fosse um apêndice delas, nunca se constituiu numa ameaça à democracia; ao contrário, foi sempre um reforço democrático, como ocorre agora outra vez.