Título: Rigor com Farc converte Uribe em ponto de equilíbrio do país
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2007, Internacional, p. A20
Há cinco anos, a Colômbia esteve a ponto de naufragar, com uma guerra civil de quatro décadas, a maior produção mundial de cocaína, três poderosas instituições ilegais (paramilitares, narcotráfico e guerrilhas) a ameaçar-lhe a normalidade, líderes sem confiança popular e um presidente que quase se rendeu à guerrilha. Na contramão do naufrágio institucional, Álvaro Uribe prometeu mão de ferro para vencer a guerrilha.
Ele se transformou no ponto de equilíbrio da Colômbia, numa espécie de grande referencial institucional de um país em reconstrução. Sua popularidade está nas alturas há cinco anos - nunca teve menos de 60% de aprovação e já teve mais que 70%. Como Lula no escândalo do mensalão, dá explicações ligeiras para acusações aparentemente comprometedoras - e o povo acredita.
Para governar, estimulou um troca-troca partidário que sangrou os dois partidos tradicionais - o Liberal (ao qual pertenceu) e o Conservador, que existem desde o século 19 - e formou uma base política dividida em mais de 40 pequenos partidos e ¿movimientos¿. Com isso, ficou com as mãos livres e governa sem ter de pedir a bênção aos partidos tradicionais.
Flui soberano sobre acusações delicadas. Quando o pai foi assassinado pelas Farc, em 1983, ele voou para a fazenda da família num helicóptero cedido por seu então amigo Pablo Escobar, que à época atuava em Medellín como construtor de casas populares. Explicou: as suas famílias eram amigas e, na época, não havia indícios de seu envolvimento com o narcotráfico. Depois, um helicóptero da família Uribe foi apreendido num laboratório clandestino de Escobar. Explicou: o aparelho foi roubado.
Na desmobilização dos paramilitares, brotaram fortes suspeitas de que Uribe era condescendente com eles por conta de supostas velhas ligações. Ele endureceu com os ¿páras¿ e encerrou os líderes numa penitenciária de segurança máxima. A oposição admite sua blindagem: ¿Sua popularidade é inquestionável¿, acata o senador da oposição Gustavo Petro.
Quando cresceram as denúncias de que seus auxiliares tinham ligação com os ¿páras¿, ele defendeu alguns - como o ministro da Fazenda, Oscar Ivan Zuluaga - e demitiu outros, como a charmosa ex-chanceler Maria Consuelo Araújo, cujo irmão, senador, foi preso. Consolidada a maioria democrata nas duas Casas do Congresso dos EUA, passou a cobrar dos militares respeito aos direitos humanos para não pôr em risco a ajuda militar americana da qual depende.
Com um ar ora arrogante, ora de menino desprotegido, galvanizou de tal forma o cenário político do país que ninguém ousa imaginar como será a sua sucessão, em 2010.