Título: Pacificação teria alto preço social
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2007, Internacional, p. A20
Se a Colômbia vencer a guerrilha, o passo seguinte será superar uma tragédia social. O país tem 240 mil homens no Exército (o Brasil tem 180 mil), 28 mil na Marinha, 12,5 mil na Aeronáutica e 130 mil na Polícia Nacional; e mais 800 mil pessoas trabalhando com segurança privada, segundo cálculo da ONG Nuevo Arco-Iris. Quem analisa os sombrios cenários sobre o futuro se pergunta onde alocar tanta gente se a paz vier.
Há questões preocupantes: se a guerra civil de 40 anos acabar, o país começa por perder a ajuda militar de US$ 700 milhões dos EUA. Um dado que agrava o cenário futuro é que os possíveis desempregados serão pessoas treinadas para lidar com armas e situações de guerra. Por tudo isso, muitos acreditam que ao governo Uribe e às Forças Armadas interessam confinar a guerrilha à selva e à montanha, mas não eliminá-la, seja pela vitória militar, seja por uma eventualmente bem-sucedida negociação.
Um alto oficial do Exército que não quis se identificar comentou com o Estado que as ¿forças públicas¿ não têm condições de vencer a guerrilha, mas se tivessem, seria inconveniente liquidar a fatura e matar a galinha dos ovos de ouro da ajuda militar.
Outros especialistas afirmam que, se a guerra civil terminar, o Plano Colômbia - essencialmente militar - deverá ter um sucedâneo desenvolvimentista, capaz de absorver quantidades excepcionais de mão-de-obra não exatamente qualificada.
Mesmo sem vitória militar e sem sucesso à vista na negociação, outra interrogação envolve o futuro dos militares na política colombiana. Há 15 anos, menos de um quinto dos colombianos dizia confiar nas forças de segurança; hoje, três quartos da população revelam alta confiança nas Forças Armadas. Ainda que a Colômbia não tenha repetido a tradição dos golpes militares que marcou a sua vizinhança, os políticos se preocupam com essa admiração quase heróica.