Título: Jovens estudam cada vez mais. E são metade dos desempregados
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2007, Economia, p. B4

O desemprego, que já atinge mais de 9 milhões de brasileiros, afeta principalmente os jovens. Um em cada dois desempregados tem menos de 25 anos de idade, segundo estudo do economista Márcio Pochmann, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O administrador de empresas desempregado João Boaventura dos Santos, de 24 anos, ilustra as dificuldades enfrentadas pelo jovem brasileiro no mercado de trabalho. Santos saiu da faculdade em 2004 e acaba de iniciar um MBA em gestão estratégica empresarial. 'Espero que o MBA funcione como diferencial na disputa pelo emprego.'

Ele diz que tem conhecimentos básicos de inglês e experiência em logística - área em que trabalhou no Grupo Pão de Açúcar até novembro de 2005. Depois disso, começou a prestar concursos públicos em busca de estabilidade e de um salário melhor.

'Prestei exame para a Receita Federal e para a Caixa Econômica Federal, mas não tive êxito.' No caso da Receita, o salário era de R$ 4,5 mil, bem acima dos R$ 750 que recebia na empresa privada. Cansado de procurar alternativas mais vantajosas, em maio de 2006 foi contratado por uma pequena gráfica como auxiliar de vendas. Ele ganhava R$ 700 e trabalhou até fevereiro.

Além de ter voltado às salas de aula, Santos procura emprego, na área de logística, em sites na internet. Na sexta-feira, esteve no Centro de Solidariedade ao Trabalhador, mantido pela Força Sindical, em busca de ofertas de emprego.

As chances de encontrar uma colocação no mercado são cada vez mais remotas. Segundo José Ricardo Roriz, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), investimentos do setor, que poderiam ampliar a oferta de trabalho, hoje são defensivos.

'Ninguém está investindo em aumento de produção, e sim de produtividade, com o objetivo de ganhar competitividade ante o ataque dos produtos estrangeiros, que são beneficiados pela valorização do real em relação ao dólar.'

Por esse motivo, o investimento tem de ser cada vez mais vultoso para criar um número razoável de empregos. De acordo com a Fiesp, para cada R$ 1 milhão investido, são abertos 22 postos de trabalho na pequena empresa industrial e apenas cinco numa grande. 'A globalização exige empresas cada vez maiores, com ganhos de escala e produtividade. Estamos saindo da média de 22 empregos para cinco.'

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, com a valorização do real as indústrias do setor estão investindo em aumento de produtividade, trazendo do exterior equipamentos automatizados. 'Por isso, o emprego e as vendas não crescem no mesmo ritmo.'

O setor prevê crescimento de 13% nas vendas este ano e vai ampliar o emprego em apenas 7%. 'Isso é natural, pois temos ociosidade nas fábricas.' Em 2006, também houve descompasso entre o crescimento do setor e o número de vagas abertas. No ano passado, o faturamento aumentou 12% e o emprego, 8,5%.

Na produção de máquinas e equipamentos, o número de trabalhadores recuou 1,4% em fevereiro em relação a igual período de 2006. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o setor empregava 209 mil trabalhadores em fevereiro, ante 212 mil no mesmo mês de 2006.

A situação do emprego chega a ser dramática em empresas que sofrem concorrência direta das importações chinesas, como no setor de escovas para cabelo. Das 30 fábricas que existiam no País há cinco anos, restaram apenas duas.

Uma das sobreviventes, a Escovas Fidalga, que em 2004 trabalhava em regime de três turnos, hoje opera com apenas um. O número de funcionários foi reduzido de 250 para 80. 'Mantidas as condições atuais, 2007 será mais um ano ruim', afirma Manolo Miguez, presidente da empresa.

No Grupo J. Macêdo, a marca Dona Benta, que representa 60% do faturamento da divisão de alimentos, coloca no mercado este mês uma nova linha de mistura para bolo. Batizada de Chocolatíssimo, a novidade não representará aumento de postos de trabalho na fábrica instalada no bairro do Jaguaré, zona oeste da capital paulista. Nessa unidade trabalham 150 pessoas.

A gerente de Marketing da J. Macêdo, Marly Parra, explica que serão deslocados trabalhadores de outras linhas para a fabricação do novo produto.Marly conta que a companhia vai investir R$ 33 milhões este ano em marketing e desenvolvimento de novos produtos, ante R$ 20 milhões em 2006. O objetivo é ampliar a fatia de mercado da companhia exatamente em itens de maior valor agregado.