Título: Funcionários do Banco Mundial pedem a demissão de Wolfowitz
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2007, Economia, p. B4

Em plena reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird), o conselho do banco se reuniu ontem para discutir, entre outros tópicos, qual será o destino de Paul Wolfowitz, atual presidente da instituição. Ele é acusado de favorecer a namorada e a Associação dos Funcionários do Banco Mundial pediu a sua demissão.

'Wolfowitz precisa reconhecer que sua conduta comprometeu a integridade e a eficiência do Banco Mundial e destruiu a confiança dos funcionários em sua liderança; ele precisa agir de forma honrada e pedir demissão', disse a presidente da associação, Alison Cave, ontem, à imprensa. A entrevista teve momentos constrangedores - Wolfowitz apareceu no local e foi recepcionado com gritos de 'demita-se' de funcionários.

No centro do imbróglio está o salário milionário de Shaha Riza, a namorada de Wolfowitz. Shaha era funcionária do Banco Mundial e foi transferida para o Departamento de Estado em setembro de 2005, pouco depois de Wolfowitz assumir a presidência do Bird. Nessa transição, ganhou um aumento salarial de US$ 61 mil (mais de 40%)- seu salário foi para US$ 193.590 líquidos por ano - e ela passou a ganhar mais do que a secretária de Estado Condoleezza Rice, que recebe US$ 183.500 brutos por ano.

Posteriormente, a namorada de Wolfowitz foi transferida para a Fundação para o Futuro, uma ONG financiada pelos Estados Unidos para 'promover a democracia' no Oriente Médio. O Bird continuou a pagar o salário da namorada de Wolfowitz, que era conselheira de comunicações no Departamento de Oriente Médio do banco antes de ser transferida. Por ironia, a principal bandeira de Wolfowitz em sua gestão no Bird é o combate à corrupção e ao nepotismo nos países pobres.

Ontem, o presidente do Banco Mundial reconheceu ter errado ao ajudar sua namorada a ser transferida para um emprego com salário maior. Ele argumentou que, ao assumir a presidência do banco, havia um potencial conflito pelo fato de Shaha ser uma funcionária. Por isso, ele teria pedido orientação ao comitê de ética, que teria recomendado a transferência da funcionária. 'Mas eu deveria ter me mantido fora das negociações; eu cometi um erro e peço desculpas', disse Wolfowitz em entrevista na sede do Fundo Monetário Internacional.

O presidente do Banco Mundial chegou abatido e cabisbaixo para a entrevista e fez um discurso de mea-culpa. 'Vou começar dizendo apenas algumas palavras sobre o assunto que está na cabeça de todo mundo. Eu assumo total responsabilidade pelos detalhes do acordo e não tentei esconder minhas ações; vou aceitar qualquer recomendação do conselho do banco.'

Apesar do mea-culpa preventivo, Wolfowitz foi massacrado por jornalistas. A primeira pergunta foi: 'Se o conselho decidir que o sr. deve ser demitido, qual será sua avaliação?' Wolfowitz respondeu que o conselho estava deliberando no momento e ele não iria especular sobre a decisão. Dois outros jornalistas perguntaram se Wolfowitz não iria pedir demissão.

'Como o sr. responde a críticas de que transformou o Banco Mundial em uma sucursal do governo americano e que está concedendo empréstimos do banco para países favoritos dos EUA?' Outro perguntou por que o Banco Mundial havia deixado de dar financiamento ao Usbequistão depois que o país deixou de ser aliado dos EUA.

Wolfowitz se defendeu das críticas de que teria 'aparelhado' o Banco Mundial com integrantes do governo Bush e estaria defendendo as visões dos EUA no banco. 'Para pessoas que me associam a meu emprego anterior (vice-secretário de Defesa e um dos arquitetos da guerra do Iraque), eu não estou mais no meu emprego anterior, eu não trabalho para o governo dos Estados Unidos.' Os funcionários do banco não se comoveram com as justificativas de Wolfowitz e argumentam que ele interveio, sim, para que Shaha conseguisse um salário melhor. Segundo a associação, existe um memorando de Wolfowitz instruindo o vice-presidente de RH do banco a concordar com os termos da transferência de Shaha.

Wolfowitz tentou abordar planos do banco para a África e combate ao HIV durante a entrevista, mas a polêmica do salário da namorada ofuscou todos os outros assuntos.

Shaha e Wolfowitz namoram desde 2001, quando o ex-secretário de Defesa se divorciou da primeira mulher. Shaha, também divorciada, é cidadã britânica de família líbia, que cresceu na Arábia Saudita. Wolfowitz é judeu, filho de um matemático que era um sionista fervoroso.

Agenda:

10 horas: Panorama Econômico da Ásia e do Pacífico

10 horas: encontro dos ministros do G-24 (grupo intergovernamental formado por 24 países)

11 horas: Panorama Econômico do Hemisfério Ocidental

12 horas: Relatório sobre Monitoramento Global

14 horas: Panorama Econômico da África Subsaariana

15h30: presidente do G-24, Felisa Miceli, ministra da Economia da Argentina.