Título: Câmbio afeta exportações, diz OMC
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2007, Economia, p. B5

A valorização do real em relação ao dólar impediu uma maior competitividade das exportações do Brasil em 2006 e pode continuar afetando neste ano. A avaliação é da Organização Mundial do Comércio (OMC), que ontem divulgou relatório anual em que aponta uma queda do Brasil entre os maiores exportadores e uma constatação preocupante: as exportações mundiais em volumes cresceram duas vezes mais rápido que o desempenho brasileiro em 2006.

'O câmbio certamente está tendo um impacto. Nominalmente, a valorização do real foi de 10% em 2006 e muito mais em termos reais, o que não contribui em nada para a competitividade das empresas exportadoras', afirmou Michael Finger, um dos principais economistas da entidade com sede em Genebra.

Pelo ranking, o Brasil passou da 23ª posição em 2005 para a 24ª no ano passado. Em 12 meses, o País aumentou suas exportações em volume em apenas 4%, ante uma média internacional de 8%. Em valores, porém, o aumento no Brasil foi de 16%, mas em grande parte graças à alta dos preços de commodities e minérios.

O Brasil também perdeu fôlego no crescimento de suas importações e caiu da 27ª posição em 2005 para a 29ª em 2006, com US$ 88 bilhões em compras. Para analistas, essa queda ocorreu por causa do fraco desempenho do crescimento da economia no ano passado, muito abaixo dos demais emergentes. O resultado foi um aumento de importações de apenas 14%, ante mais de 20% na China, 25% na India e 35% na Rússia.

A participação do País no comércio internacional ficou estagnada em 1,1% de tudo o que se exporta no mundo, taxa considerada baixa por analistas diante do tamanho da economia brasileira. A classificação foi liderada pela Alemanha, seguida por Estados Unidos e China. Pequim dobrou sua participação no comércio internacional em apenas seis anos e hoje representa 8% de tudo o que é exportado. Para 2008, a China tem condições de se tornar a maior exportadora do mundo.

Já com relação à América Latina, as perspectivas para 2007 não são tão positivas. A OMC alerta que uma eventual queda na economia americana, como muitos prevêem, terá um impacto no volume de importações dos Estados Unidos. Como conseqüência, a primeira região a ser afetada é a latino-americana.

'Nenhuma outra área do mundo é tão dependente do que ocorre nos Estados Unidos em termos comerciais como a América Latina. Se de fato ocorrer uma queda no crescimento americano e uma contração de importações, o resultado poderá ser um menor ritmo de crescimento nas exportações da região', afirmou Finger.

Para a OMC, não apenas países nas proximidades dos Estados Unidos, como o México, poderão sofrer. 'Toda a região seria afetada', afirmou o economista. Outro fator que pode afetar as exportações da América Latina em 2007 são os preços do petróleo e de certas commodities. Em 2006, o aumento em volumes das exportações sul-americanas foi de apenas 2%, uma das menores do mundo. Mas em valores, graças aos combustíveis e minérios, o aumentou foi de 20%. Só o Chile apresentou alta de exportações de 40%, graças aos preços do cobre. Para a OMC, dificilmente essa taxa vai se repetir em 2007, já que as projeções apontam para uma queda nos preços dessas commodities.

ETANOL

No setor agrícola, porém, a perspectiva de queda dos preços pode não ocorrer. Isso graças ao etanol. Uma das avaliações é de que a expansão da produção do milho nos Estados Unidos está avançando sobre as terras usadas para outros produtos, como soja, algodão e arroz. As terras que sobram para esses cultivos, portanto, estão ficando cada vez mais caras. Em conseqüência, os preços dessas commodities podem subir nos próximos meses.

NÚMEROS

10 % foi a valorização nominal do real em 2006

4 % foi quanto o País aumentou o volume de suas exportações em 12 meses

8 % foi o aumento médio das exportações internacionais

16 % foi o aumento em valor das exportações brasileiras em 2006, em grande parte por causa da alta dos preços de commodities e minérios

14 % foi o aumento de importações, ante mais de 20% na China, 25% na India e 35% na Rússia.