Título: MST destrói canavial e faz invasões
Autor: Siqueira, Chico e Ogliari, Elder
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2007, Nacional, p. A9

Integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) ampliaram ontem as mobilizações do 'abril vermelho'. Em Mirandópolis, no interior de São Paulo, eles destruíram na madrugada cerca de 30 hectares de plantação de cana-de-açúcar na Fazenda São Lucas, que tinham ocupado segunda-feira. No Rio Grande do Sul, os sem-terra invadiram três fazendas, como 'parte da jornada nacional de luta pela reforma agrária' e pediram assentamento para as 2,5 mil famílias acampadas à beira de estradas.

Ainda no interior de São Paulo, em Castilho, 150 integrantes do MST invadiram a Fazenda Pendengo e obrigaram os trabalhadores a paralisar serviços. No Recife, integrantes do Movimento Terra Trabalho e Liberdade (MTL) manteve a ocupação do Incra. A superintendente, Maria de Oliveira, conseguiu reintegração de posse, mas os sem-terra prometem resistir.

Na Bahia, 5 mil integrantes do MST e do Movimento de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas seguem a marcha iniciada segunda-feira em Feira de Santana. Devem chegar a Salvador dia 16, véspera do aniversário de 11 anos do massacre de Eldorado dos Carajás (PA). Os movimentos tradicionalmente intensificam ações este mês, para relembrar a morte de 19 sem-terra em conflito com policiais militares.

TRATORES

Em Mirandópolis, os sem-terra tiveram a ajuda de agricultores de assentamentos de reforma agrária da região, que cederam três tratores. Eles usaram grandes pedaços de madeira fixados na traseira dos tratores para derrubar o canavial, plantado havia dez meses pela Companhia Agrícola da Mata. 'Fizemos o serviço porque somos contra a monocultura e a tática dos fazendeiros de maquiar dados de produção para tentar receber indenizações acima dos valores reais das benfeitorias', disse Lourival Plácido de Paula, coordenador do MST. A Fazenda São Lucas foi declarada improdutiva em 2002, mas os proprietários recorreram à Justiça.

SEM CONFRONTOS

Os sem-terra no Rio Grande do Sul portaram paus, foices, enxadas e pedaços de ferro nas invasões, mas não houve confronto. Em Coqueiros do Sul, 700 militantes ocuparam, às 5 horas, a Fazenda Coqueiros. Eles ficaram na propriedade até 18h30, quando cercados pela Brigada Militar, saíram pacificamente.

Em Pedro Osório, outros 400 sem-terra invadiram a Estância Pântano e em Nova Santa Rita, região metropolitana de Porto Alegre, 700 ocuparam a Granja Nenê. Os proprietários pediram reintegração de posse à Justiça.

Além de invasões, o MST organizou uma marcha em São Gabriel. Cerca de 350 pessoas foram até o centro da cidade para defender a desapropriação de 13,2 mil hectares da Fazenda Southall.