Título: Braço da Al-Qaeda ataca na Argélia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2007, Internacional, p. A10

No pior ataque terrorista ocorrido na Argélia nos últimos dez anos, pelo menos 30 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas, ontem, com a explosão de duas bombas detonadas por suicidas na capital, Argel. Um dos alvos era o gabinete do primeiro-ministro Abdelaziz Belkhadem. Os atentados foram reivindicados pelo braço local da Al-Qaeda e mostram que a organização está mais ativa do que nunca no norte da África.

Os ataques sincronizados ocorreram no fim da manhã. A primeira bomba explodiu às 10h45, horário local, quando um dos terroristas, dirigindo um carro-bomba, atravessou o portão do prédio que abriga o Ministério do Interior e o gabinete do premiê. A explosão demoliu a fachada colonial do edifício, abriu buracos na parede do gabinete do primeiro-ministro e incendiou os carros estacionados a uma distância de 30 metros. A força do impacto quebrou vidraças em um raio de um quilômetro do local.

A segunda explosão - possivelmente orquestrada por dois suicidas - destruiu uma delegacia de polícia no bairro de Bab Ezzouar, subúrbio de Argel. Os momentos que se seguiram às explosões foram de terror para os habitantes de Argel, que presenciaram a histeria de pessoas correndo e gritando pelas ruas, temendo novos atentados.

Boatos sobre novas explosões ainda circularam por algumas horas até que a calma voltasse. ¿Foi um crime covarde¿, declarou o premiê Abdelaziz, um dos alvos das explosões. Logo após os atentados, a filial da rede de TV Al Jazeera, em Rabat, no Marrocos, recebeu um telefonema do porta-voz do grupo Al-Qaeda do Magreb Islâmico, que reivindicou a autoria das explosões.

¿Não descansaremos enquanto cada centímetro de solo islâmico não estiver livre das forças estrangeiras¿, disse o porta-voz. Ele afirmou ainda que os alvos eram o prédio do governo, uma delegacia de polícia e o escritório da Interpol, que mais tarde divulgou nota afirmando que não tinha nenhum escritório na região da segunda explosão.

O grupo terrorista, originalmente chamado de Grupo Salafista para a Pregação e o Combate (GSPC), é a última herança da Frente Islâmica de Salvação (FIS) - coalizão de partidos que lutou contra o governo numa guerra civil que começou em 1992 e deixou 150 mil mortos.

A FIS foi extinta em 2000, mas seu braço militar, o Grupo Islâmico Armado (GIA), continuou sua campanha de assassinatos. O GSPC é uma dissidência do GIA, fundada em 1998. Ano passado, o grupo mudou de nome e tornou-se Al-Qaeda do Magreb Islâmico.

A campanha de repressão do governo argelino, que inclui a concessão de anistias aos militantes, tem diminuído o número de membros do grupo. Hoje, o núcleo da organização não passa de algumas centenas de radicais, que estariam recrutando militantes em outros países do norte da África.

Autoridades do Marrocos afirmam que as explosões ocorridas em Casablanca, na terça-feira, também foram obra da Al-Qaeda do Magreb Islâmico. O grupo também mantém atividades na Tunísia. Em janeiro, a polícia tunisiana matou 12 terroristas e capturou outros 15 que tentavam entrar no país através da fronteira com a Argélia.

DAS URNAS PARA A GUERRA CIVIL

1990 - A recém-criada Frente Islâmica de Salvação (FIS), uma coalizão de partidos islâmicos, obtém 55% dos votos nas eleições locais argelinas

1991 - No primeiro turno das eleições gerais, a FIS conquista a maioria da Assembléia Nacional do Povo, o Parlamento local, e torna-se favorita para levar o segundo turno da eleição presidencial

1992 - A possibilidade de vitória de um partido islâmico faz com que o Parlamento seja dissolvido pelos militares. Manifestações de rua são proibidas e começa a guerra civil, que deixou 150 mil mortos

1999 - Um referendo aprova a lei de reconciliação do presidente Abdelaziz Bouteflika, que anistia vários militantes islâmicos da FIS

2000 - A FIS é extinta, mas seu braço militar, o Grupo Islâmico Armado (GIA), continua atuante

2005 - Aprovada em referendo a anistia de todos os envolvidos nos conflitos desde 1992. A medida acaba fazendo com que muitos terroristas deponham as armas

2007 - Em janeiro, o Grupo Salafista para a Pregação e o Combate anuncia ter mudado seu nome para Al-Qaeda do Magreb Islâmico.