Título: Mais um passo na mudança do Copom
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2007, Economia, p. B2

Em pouco tempo, dois diretores do Banco Central (BC) que se perfilavam na ala mais conservadora deixaram a instituição: Afonso Bevilaqua, no início de março, e, agora, o pedido de demissão ¿por razões pessoais¿ do diretor de Política Monetária do BC, Rodrigo Azevedo, que será substituído por Mario Gomes Torós.

O novo diretor, cuja indicação terá de ser aprovada pelo Senado, ao contrário de Rodrigo Azevedo, não pertence à ala acadêmica, mas é conhecido como um operador.

A saída de Afonso Bevilaqua era esperada, mas a do seu companheiro causou surpresa, pois, há apenas duas semanas, manteve uma rodada de contatos com investidores da City no Reino Unido e em Frankfurt. É natural que essa surpresa tenha desencadeado especulações no mercado internacional, pois não se acredita na versão de motivos pessoais, parecendo mais que seu afastamento está vinculado à insatisfação com a política cambial ou à pressão cada vez maior contra a política de juros.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, se apressou em declarar que foi uma mudança normal, que não afetará nem a política cambial tampouco a política monetária. É pouco provável que o novo diretor participe da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 17 e 18 de abril, mas, a exemplo do que ocorreu na última reunião com Bevilaqua, o diretor demissionário não votará.

Levando em conta a tradição do Copom, não se pode pensar que haverá logo uma mudança drástica da política monetária, que seria marcada por um corte de 50 pontos porcentuais da taxa Selic a cada reunião do organismo. Mais importante será a análise da ata da próxima reunião para se avaliar se o BC abandona a ortodoxia, o que poderia justificar-se, dada a evolução dos fundamentos da economia interna e as perspectivas da internacional.

O ¿mercado¿ considera que uma mudança - embora lenta - poderia se notar no plano da política cambial, em face das preocupações sobre o custo elevado das intervenções do BC. Existe um certo consenso de que só uma política monetária que se traduzisse por uma redução mais acentuada da taxa Selic seria capaz de diminuir a apreciação do real ante o dólar.

Todavia, entre os responsáveis pela política econômica, cresce a convicção de que o problema se encontra na carga tributária. O presidente, porém, reluta em aceitar uma reforma que obrigue o governo a conter seus gastos.