Título: 'Informação de Lula é viciada por puxa-sacos'
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2007, Economia, p. B4

O presidente Lula disse que quando encontra individualmente com empresários eles dizem que os negócios estão indo muito bem, mas quando juntam 10 ou 12, aí reclamam dos juros, da carga tributária etc. Em quem ele deve acreditar?

Entre uma boa e uma má noticia, ou uma boa ou má interpretação, a pessoa tem uma natural tendência de acreditar na boa e desprezar a má. E o poder no Brasil exerce um fascínio enorme, o que faz com que muitas vezes quem detém o poder acaba sendo mal informado.

Por quê?

Essa aura faz com que, mesmo as pessoas que vão armadas de vontade de dizer da sua insatisfação e revolta, mudem totalmente o discurso diante da pessoa que detém o poder. Isso sem contar os puxa-sacos. Por isso, é preciso selecionar as informações, se despindo de querer acreditar só nas boas. É preciso prestar atenção nas críticas, que na maioria dos casos são as mais valiosas.

Os empresários que têm se encontrado individualmente com Lula são puxa-sacos?

Não sei com quem ele esteve, não sei quais são todos eles, mas sei que uma porção deles são puxa-sacos. Sei até nome e sobrenome. É fato conhecido, não vou citar nominalmente, porque seria tedioso, é muita gente. A informação que o presidente tem é viciada pelo puxa-saquismo. E o que eu posso fazer? Prefiro acreditar nos números do IBGE.

E o que eles indicam?

Mostram que a indústria de transformação cresceu só 1,6% em 2006, menos da metade do crescimento do PIB. E vão me dizer que o setor vai bem? Não, ele está indo mal. O crescimento de um país na condição do Brasil só pode ser puxado pela indústria, que tem um poder de dinâmica enorme na economia.

Quais são os problemas?

Temos alertado que há um distanciamento entre a demanda e a oferta doméstica, que tem sido ocupado por produtos importados, o que tem impacto negativo no emprego, entre outros.

O que tem levado a isso?

Não quero ser repetitivo. mas com essa evolução de taxa de câmbio, vamos contabilizar perdas sucessivas.