Título: 'Política monetária do governo está acima do BC'
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2007, Economia, p. B4

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem ao Estado que a política monetária do governo está acima dos diretores do Banco Central (BC), e que ela não muda com a saída do diretor Rodrigo Azevedo. Em mais um recado aos membros do Comitê de Política Monetária (Copom), Mantega disse que a missão do Banco Central é a de perseguir a meta de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

'O BC tem de perseguir a meta de inflação. Essa é a sua incumbência, a sua missão', afirmou o ministro. Nos últimos meses, o ministro, em quase todas as entrevistas que tem concedido à imprensa, repete a mesma mensagem: O BC tem de mirar o centro da meta de inflação de 4,5% fixada pelo CMN para este ano e 2008.

Por trás da insistência das declarações de Mantega está a insatisfação com o Copom, que na avaliação da equipe do Ministério da Fazenda estaria excessivamente cauteloso e perseguindo, na prática, uma inflação abaixo do centro da meta. Dessa forma, estaria desacelerando o processo de redução da taxa de juros.

Na avaliação da Fazenda, o modelo que o BC usa para calcular as projeções de inflação e definir o rumo da taxa de juros está errado e levando o Copom a colocar o IPCA abaixo da meta. Segundo fontes ouvidas pelo Estado, a renovação na diretoria do BC, com a saída de Azevedo, ontem, e de Afonso Beviláqua, ocorrida em março, abriria espaço para uma correção do modelo, embora de forma gradual.

Quando questionado sobre se a substituição de Azevedo por Mario Gomes Torós daria uma 'arejada' no BC, permitindo uma redução mais rápida dos juros, Mantega foi, no entanto, cauteloso: 'A política não muda e continua na mesma trajetória que se encontra', disse.

Segundo Mantega, a troca de Azevedo por Torós é apenas técnica. 'Isso não interfere na política monetária do País', insistiu. 'A política monetária está acima dos diretores, dos membros do BC. É apenas uma troca técnica. Sai um diretor, por razões pessoais, e entra outro com a mesma competência técnica', acrescentou. Mantega disse que não conhece Torós, mas ressaltou que o novo diretor tem uma 'boa reputação'.