Título: Jorge quer ex-executivo do Santander no BNDES
Autor: Abreu, Beatriz
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2007, Economia, p. B6

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, defende a indicação de Gustavo Adolfo Funcia Murgel para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo a informação de fontes. A indicação foi apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, junto com outras opções. Caberá ao presidente a palavra final.

Murgel trabalhava no Banco Santander Brasil até julho do ano passado e foi chefe de Mário Gomes Torós, indicado ontem para a diretoria de Política Monetária do Banco Central. Ambos foram indiciados por suposta manipulação de preços de ações pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e foram absolvidos (ver pág. B3). Miguel Jorge era vice-presidente executivo de Recursos Humanos e Assuntos Jurídicos e Corporativos do Santander até ser nomeado ministro, no fim de março.

Embora Murgel seja o preferido de Miguel Jorge, outros nomes estão no páreo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, lidera uma ala que pressiona pela permanência de Demian Fiocca no cargo. Um terceiro nome corre por fora: o do economista Luciano Coutinho, que fez parte do governo Sarney e nos últimos tempos trabalhava como consultor no rearranjo financeiro para a recuperação da Varig. A disputa está entre Murgel e Fiocca, dizem as fontes.

Em defesa da manutenção de Fiocca, o argumento é de que, nos últimos dois anos, ele conduziu o BNDES de forma eficiente, numa administração técnica e sem interferências políticas. Mantega gostaria que ele permanecesse porque o considera mais alinhado às teses desenvolvimentistas do governo.

Essa não é, porém, uma visão unânime. Outras fontes lembram que Lula ficou irritado com a demora e o baixo volume de empréstimos oferecidos pelo BNDES. No fim do ano passado, durante as discussões de formulação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Lula falou sobre a necessidade de aumentar o volume de crédito às empresas brasileiras.

A entrevista concedida por Fiocca anteontem, exibindo um aumento de 66% no volume de liberação de créditos no primeiro trimestre deste ano em comparação com igual período do ano passado, teria sido uma tentativa de credenciá-lo a permanecer no posto.

Justamente para dar mais agilidade ao BNDES e facilitar os empréstimos às empresas, Miguel Jorge teria procurado nomes no mercado financeiro. Nessa perspectiva, Murgel teria o perfil ideal para operar de forma eficiente uma máquina gigantesca como o BNDES e fazê-la funcionar no ritmo desejado por Lula.

Os defensores de Fiocca argumentam que uma pessoa do mercado financeiro não teria a sensibilidade necessária para administrar o BNDES, que é um banco voltado ao crescimento. Quem defende a indicação de Murgel acha o contrário: as decisões são de Lula e ao BNDES cumpre executá-las.