Título: Comércio mundial deve crescer menos este ano
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2007, Economia, p. B9

O crescimento do comércio mundial neste ano será inferior ao de 2006. A projeção é da Organização Mundial do Comércio (OMC), que, em seu relatório anual, prevê para 2007 uma expansão de apenas 6% em volume, ante 8% no ano passado. Em valores, o aumento foi de 15% em 2006, graças à alta nos preços de commodities e de petróleo. No total, o comércio mundial de bens movimentou US$ 12 trilhões no ano passado, além de outros US$ 2,7 trilhões no comércio de serviços. A grande novidade de 2006, porém, foi a China, que passou a ocupar o terceiro lugar como maior exportador do mundo e deve desbancar Alemanha e Estados Unidos até o fim do ano.

Em apenas seis anos, Pequim dobrou sua participação no comércio mundial e hoje representa 8% de todas as exportações do mundo, com US$ 969 bilhões, ante US$ 1,03 trilhão dos Estados Unidos e US$ 1,11 trilhão da Alemanha. Mas, com um crescimento de 27% em apenas um ano em suas vendas, os chineses chegaram a superar os Estados Unidos no segundo semestre do ano passado, mas ainda assim terminaram 2006 na terceira colocação.

A previsão dos economistas da entidade é de que, até o fim do ano, a China seja o segundo maior exportador e, nos últimos meses de 2007, estará exportando também mais que a Alemanha por mês. Ao contrário do Brasil, as vendas chinesas não cresceram só em valores, mas também em volumes. 'Será uma questão de meses até que os chineses superem também a Alemanha e se tornem o maior exportador', diz uma especialista na OMC.

'Esse desempenho da China deve ser visto como uma verdadeira revolução na geografia do comércio mundial, principalmente diante do fato de Pequim estar na OMC há apenas cinco anos', alerta um diplomata europeu. Para um negociador brasileiro, ficará cada vez mais difícil para a China alegar que não pode abrir seu mercado por ser um país em desenvolvimento e ter entrado há apenas cinco anos na OMC.

Em importações, os chineses ainda estão longe dos americanos, que compram 15% de tudo o que é comercializado no mundo - quase US$ 2 trilhões. As importações de Pequim, apesar de aumentar, atingem US$ 720 bilhões. Para o restante do mundo, a OMC mantém certa cautela. A razão para a queda no crescimento do comércio são as incertezas econômicas mais pronunciadas em 2007, tanto nos mercados financeiros e imobiliários.

Com esse cenário, a expansão econômica do mundo estaria afetada. Depois de crescer 3,7% em 2005, o PIB mundial deve aumentar 3% em 2007. A conseqüência é uma queda também da expansão do comércio. A taxa de 6% é inferior à marca de 2005.

Já o crescimento de 8% em 2006 - o maior desde 2000 - somente foi alcançado graças à retomada econômica e comercial da Europa, com 7,5% de aumento das exportações, a melhor taxa desde 2000. A recuperação do Japão e os altos índices de exportações e importações na China e na Índia também contribuíram.

Os Estados Unidos viveram uma situação única. Seu déficit comercial continuou a crescer, mas o país teve o melhor desempenho das exportações em dez anos, com aumento de 14% em valores, em parte por causa do dólar desvalorizado.

Já os preços das matérias-primas tiveram um papel fundamental nos resultados de 2006. 40% do aumento de 15% em valores nas exportações mundiais ocorreu por causa da inflação dos preços. Os valores dos metais aumentaram em 56%, ante 20% para os combustíveis e 10% nos produtos agrícolas. Para exportadores de petróleo, portanto, o ano foi de superávit em suas balanças comerciais.