Título: FMI prevê PIB maior que o governo
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2007, Economia, p. B13

O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou a previsão de crescimento da economia do Brasil em 2007 e 2008, apostando nos efeitos da redução da taxa de juros. Na projeção do Fundo, divulgada ontem no relatório semestral Panorama Econômico Mundial, o Brasil crescerá 4,4% este ano e 4,2% em 2008 (ante 3,7% em 2006). A previsão do Banco Central para este ano é de 4,1%. O FMI revisou para cima as previsões de crescimento do Brasil, aumentando a projeção em 0,5 ponto porcentual em 2007 e 0,3 em 2008.

'A economia brasileira já está reagindo à redução dos juros e esperamos que o crescimento continue a acelerar', disse Charles Collyns, vice-diretor de Pesquisas do Fundo. 'Estamos otimistas, a economia brasileira vai ganhar velocidade e continuar se beneficiando de altos preços de commodities.'

Mas o vice-diretor do Fundo admite que o País passa por um período de crescimento relativamente baixo. Em 2007, apenas dois países na região crescerão menos que o Brasil - Equador (2,7%) e México (3,4%). A Argentina terá o maior avanço do PIB na região, com 7,5%.

Segundo Collyns, o Banco Central brasileiro pode continuar reduzindo a Selic, 'porque os juros do Brasil continuam altos em comparação com países vizinhos'. 'Dadas as melhoras macroeconômicas e o histórico de disciplina fiscal, não vemos por que os juros reais brasileiras têm de continuar altos.' Na opinião de Collyns, o BC está seguindo uma abordagem 'apropriadamente prudente', reduzindo juros gradualmente, de maneira que a economia cresça mais rapidamente, enquanto a inflação se mantém baixa.

Mas, ao mesmo tempo, há fatores estruturais que continuam a emperrar o crescimento no Brasil, diz Collyns. 'A lista é bem conhecida: nível de gastos públicos extremamente alto dado o nível de renda do País e tributação muito alta para sustentar os gastos públicos', disse ele, em entrevista durante a divulgação do relatório.

'Há também questões no sistema financeiro, como grande parte de crédito direcionado, compulsório, e necessidade de desenvolver o mercado de capitais.' O relatório menciona também o problema da grande vinculação de receitas no orçamento da União. 'Reformas fiscais (para lidar com rigidez orçamentária) podem abrir espaço para aumentar gastos em programas sociais bem direcionados como o Bolsa Família.'

Collyns elogiou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), afirmando que o pacote de gastos em infra-estrutura 'é um passo importante'. Com o tempo, o Brasil vai crescer mais, com esforços para fortalecer os fundamentos que embasam esse crescimento.

NO MUNDO

O relatório do Fundo prevê que 2007 será mais um ano bom para a economia mundial: os EUA vão desacelerar, mas a atividade na zona do euro e no Japão vai se manter sólida, enquanto China e Índia continuam avançando rapidamente, levando o mundo a um crescimento mais equilibrado, na previsão do FMI. O Fundo projeta que o crescimento mundial vai desacelerar de 5,4% para 4,9%, por causa do menor avanço do PIB americano, que passou de 3,3% em 2006 para 2,2% neste ano.

'Temos um crescimento mais equilibrado do que em outros ciclos de prosperidade; desde o início dos anos 70 não havia um período de quatro anos como este, e isso é positivo e espero que dure', disse Simon Johnson, diretor de pesquisas do Fundo. Segundo o FMI, a expansão mundial vai esfriar um pouco, o que trará o crescimento para dentro do potencial, reduzindo pressões inflacionárias.