Título: A desconcentração industrial
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2007, Notas e Informações, p. A3

Nos últimos anos, a participação da indústria paulista na produção brasileira vem diminuindo. Um dos indicadores mais expressivos da desconcentração industrial está no setor automobilístico. Símbolo do notável progresso industrial de São Paulo na segunda metade do século passado, a indústria automobilística se espalhou pelo País, e hoje menos da metade dos veículos novos que chegam ao mercado sai de linhas de montagem em operação no Estado.

Dados e informações desse tipo fortalecem a posição dos que falam com insistência crescente em decadência econômica de São Paulo e, dentro do Estado, da capital e da região metropolitana. O que o recém-lançado Atlas da Competitividade da Indústria Paulista mostra é um quadro bem menos preocupante para os que vivem no Estado e, particularmente, na capital e nas cidades situadas a até 100 quilômetros dela.

O peso relativo da indústria paulista vem, de fato, diminuindo. Mas, como constata o Atlas - um trabalho conjunto da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Fundação Seade, órgão vinculado ao governo estadual -, embora respondendo por uma fatia menor da produção brasileira, o setor industrial paulista ainda tem grande peso no País. De São Paulo sai 40% do produto industrial brasileiro e o Estado ainda abriga a indústria mais dinâmica do País.

Dentro do Estado, a descentralização ocorre, mas é geograficamente limitada. Da massa salarial paga pela indústria, 80% estão concentrados na capital e nos municípios que ficam num raio de até 100 quilômetros. Nessa região estão também 75% dos empregos industriais.

Foi para compreender melhor a distribuição das fábricas pelo Estado, a qualidade e a quantidade da mão-de-obra ocupada, a renda gerada regionalmente e fornecer elementos para a formulação de políticas públicas e para as decisões empresariais sobre investimentos que a Fiesp e a Fundação Seade elaboraram o Atlas.

O trabalho cruzou informações sociais e econômicas, como os dados do Ministério do Trabalho sobre empregos formais, estatísticas do IBGE sobre produção e renda, valor adicionado regionalmente (com base em dados da Secretaria da Fazenda) e outras, para avaliar o potencial industrial de cada um dos 645 municípios paulistas, classificá-los de acordo com diferentes critérios e elaborar cerca de 2 mil mapas, que estão à disposição dos interessados pela internet.

Têm sido freqüentes as notícias sobre deslocamentos de unidades fabris de municípios da Grande São Paulo para outras cidades. As mudanças têm como justificativas, todas corretas, as restrições ambientais na capital e na região metropolitana, os problemas típicos da excessiva aglomeração, especialmente o trânsito muito congestionado, e os altos custos de operação, entre outras. Cita-se também, como causa dessas transferências, a organização sindical, mais forte na região metropolitana, o que implica negociações trabalhistas mais difíceis e, sobretudo, gastos proporcionalmente maiores com pessoal.

Mas as novas unidades, como se verifica no Atlas, geralmente não se instalam a mais de 100 quilômetros da capital. É isso que explica o fato de dois terços dos empregos industriais no Estado estarem concentrados na Grande São Paulo e em mais três municípios - Campinas, São José dos Campos e Sorocaba.

Quanto à descentralização em nível nacional, ela vem ocorrendo na produção, mas tem, como compensação para o Estado de São Paulo, a transferência para cá dos centros de decisão de grandes conglomerados industriais. Nos últimos anos, por exemplo, a sede executiva da Companhia Siderúrgica Nacional foi transferida do Rio de Janeiro para São Paulo. Também a diretoria da Aracruz, antes instalada no Rio, veio para São Paulo.

Embora venha perdendo participação na produção, São Paulo consegue manter as atividades de maior remuneração, entre elas as ligadas a marketing, planejamento estratégico e direção corporativa. Além disso, por dispor de mão-de-obra mais bem treinada, tem indústrias mais modernas e alcança produtividade mais alta do que a média nacional e paga salários melhores.