Título: Troca de radar por satélite reduzirá uso de controlador
Autor: Costa, Rosa e Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2007, Nacional, p. A4

A tão discutida ¿desmilitarização¿ não ocorrerá pela criação de um sistema para a Defesa Aérea e outro para o controle da aviação comercial. A mudança virá pela adoção do sistema de monitoramento do tráfego aéreo por satélite CNS/ATM, que guiará os vôos civis com a ajuda de computadores e em grande parte substituirá os controladores, sejam civis ou militares.

O recado foi dado aos controladores aéreos pelo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, nos dois dias de audiência das autoridades do setor aéreo no Congresso, na semana passada. A informação já havia sido repassada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O novo sistema deve funcionar a partir de 2012 e mudará radicalmente o perfil do controle de vôos no Brasil e no mundo.

A Aeronáutica não divulga o porcentual de redução do número de controladores aéreos no País, já que os estudos estão em andamento. Mas, se o sistema fosse adotado hoje, o trabalho de pelo menos metade deles passaria a ser feito por computadores, a partir do fornecimento direto de dados aos pilotos.

COMO FUNCIONA

¿No futuro, os pilotos não precisarão mais comunicar, via fonia (radiofreqüência), as suas posições ou fazer qualquer questionamento aos órgãos de controle¿, esclareceu o brigadeiro Juniti Saito, no Congresso, ao falar sobre o CNS/ATM. A sigla significa ¿comunicação, navegação e segurança de gerenciamento de tráfego aéreo¿.

Hoje, o controle dos vôos usa radares, rádio e telefonia. O CNS/ATM vai utilizar dados de satélite e tecnologia GPS para orientar a comunicação e a navegação. ¿Todo o sistema será montado em cima de dados, não mais de vozes, tanto na navegação, quanto nas comunicações¿, explicou Saito, frisando que as operações de taxiar e pousar a aeronave serão monitoradas por um sistema totalmente automatizado.

¿Tudo por dados¿, reforçou Saito, a poucos metros do presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Botelho.

Da decolagem à aterrissagem, o piloto passa hoje por três sistemas de comunicações com os controladores. Primeiro o da torre, na decolagem e aterrissagem. Depois, o de aproximação, logo depois que decolou ou quando está prestes a pousar. Por fim, aquele que usa durante o vôo, quando já está nivelado. É quando o piloto se dirige a um dos quatro Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindactas), que ficam localizados em Brasília, Curitiba, Recife e Manaus.

Um dos auxiliares diretos do presidente Lula confirmou ao Estado que, com a chegada do novo sistema e a migração, a partir de 2012, dos radares para os satélites, haverá ¿uma redução drástica¿ do número de controladores, que serão necessários apenas para o backup dos computadores e para monitorá-los. Além disso, os assessores de Lula lembram que a área econômica já avisou que não há recursos para separar o controle do tráfego aéreo civil do militar.

DESPESAS

O Brasil assumiu compromisso de instalar a nova tecnologia entre 2012 e 2015. Ela entrará em funcionamento no mundo todo, de maneira paulatina, até 2020. Segundo o comandante Saito lembrou na audiência da Câmara, será um sistema para o ¿tráfego cooperativo¿.

Atualmente, 13,7 mil pessoas compõem o sistema de controle do espaço aéreo brasileiro, sendo 12 mil militares. De acordo com os dados da Força Aérea Brasileira, o custo anual do sistema é de R$ 630 milhões - R$ 330 milhões com salários e R$ 300 milhões em manutenção. São gastos R$ 150 milhões com serviços e os investimentos são da ordem de R$ 150 milhões ao ano.