Título: Partilha política da Infraero faz oposição aumentar pressão por CPI
Autor: Costa, Rosa e Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2007, Nacional, p. A4

A revelação de que o loteamento político da Infraero foi o ponto de partida para que o caos aéreo se espalhasse pelos aeroportos do País aumentou a pressão da oposição para que uma CPI sobre o assunto se instale no Congresso. Os oposicionistas avaliam que a ocupação fisiológica de cargos mostra o descaso com que o governo trata esse setor, visto como estratégico. Para governistas, o loteamento não é novidade e não há por que investigá-lo em CPI.

Os partidos de oposição se dividem quanto à conveniência de iniciar a investigação no Senado. Para o DEM, esse é o melhor caminho, pois evita a pressão que o governo pode exercer por intermédio de sua maioria folgada na Câmara. Para lideranças do PSDB, a CPI dos deputados vai sair e seria um desperdício de energia abrir duas frentes diferentes.

Reportagem de ontem do Estado mostrou que cinco partidos governistas - PT, PMDB, PTB, PSB e PR - e um de oposição - DEM - indicaram integrantes da cúpula da empresa estatal encarregada da infra-estrutura dos aeroportos. O cenário levou o brigadeiro Edilberto Sirotheau, que ocupava justamente a Superintendência de Segurança Aeroportuária, a afirmar em 2005 que a ¿visibilidade¿ das obras em terminais estava sendo priorizada em detrimento da segurança.

Para o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), está aparecendo uma Infraero ¿contaminada e viciada pela politicagem¿, o que torna mais premente a instalação de uma CPI. Ele acredita que o futuro da investigação estará decidido até a quarta-feira, quando espera ter 35 assinaturas - oito além do necessário - apoiando a comissão no Senado. ¿Será muito difícil haver uma mudança de rumo, o mais provável é que a CPI se instale no Senado¿, afirmou Agripino. Para ele, essa Casa tem melhor condição de apurar, por ter menor influência do Executivo.

O líder do DEM na Câmara, Onyx Lorenzoni (RS), que integrou a CPI dos Correios, identificou a partir da reportagem o mesmo modo de operação nas duas empresas. Segundo ele, tanto nos Correios quanto na Infraero há direcionamento de licitações, redução de exigências para as empresas contratadas, pagamento de serviços que não foram prestados e superfaturamento nos contratos. ¿O que eram suspeitas começam a ser convicções¿, disse Lorenzoni.

O PSDB na Câmara discorda da estratégia de priorizar o Senado. ¿Essa CPI nasceu do esforço da bancada do PSDB¿, disse o líder Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP). ¿Seria um desperdício de energia duas CPIs sobre a mesma temática. Será que não tem outra coisa para investigar?¿, questiona. ¿Os senadores têm outros temas para explorar e verificar irregularidades¿, disse o tucano.

O deputado Lorenzoni acredita que haverá duas CPIs - uma na Câmara, que poderá ser determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e outra no Senado. O Supremo deu liminar em 29 de março determinando o desarquivamento da CPI da Câmara, mas sua efetiva instalação depende de decisão do pleno do tribunal, prevista para os últimos dias de abril. Enquanto isso, a oposição coleta assinaturas no Senado.

O interesse do governo em restringir a investigação à Câmara é explicado pelo senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) como confirmação da capacidade do Planalto de controlar os trabalhos. ¿Se for lá, o governo vai manobrar com a quantidade enorme de aliados que tem na Casa¿, acredita.

ACM disse estranhar que apareça como favorecido em indicações ao ex-presidente da Infraero Carlos Wilson - hoje deputado pelo PT. O senador afirmou que ¿há mais de seis anos¿ não tem ligação com Wilson.