Título: Em 2 toneladas de documentos, PF busca conexão com SP e DF
Autor: Fernandes, Adriana e Porto, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2007, Metrópole, p. C1

A Polícia Federal começou ontem a analisar as duas toneladas de documentos apreendidos na Operação Hurricane (Furacão, em inglês), que desmantelou uma rede de corrupção formada por bicheiros, juízes e delegados acusados de ligação com a exploração ilegal de máquinas caça-níqueis. Com a avaliação do material, os agentes pretendem traçar um raio X da atuação da máfia e de suas ramificações em outros Estados.

Investigadores da PF avaliam que podem encontrar pistas sobre mais pessoas envolvidas no esquema, inclusive no Poder Judiciário. A expectativa é descobrir ramificações do esquema em São Paulo e no Distrito Federal. Um dos pontos de partida da PF será analisar as agendas dos presos apreendidas na operação.

A PF teve de mudar sua estratégia com a decisão da maioria dos presos de manter silêncio nos depoimentos de sábado e de ontem aos delegados que participam das investigações. Na manhã de ontem, a PF parou os depoimentos e acelerou o envio para Brasília da documentação apreendida nas casas e escritórios dos 25 presos.

Foram transferidos agendas, discos rígidos de computadores e também jóias e relógios recolhidos. O avião da PF fez duas viagens do Rio a Brasília para transportar todo o material. Cerca de 50 policiais estão trabalhando desde ontem à tarde na análise da documentação. Dez deles ficaram encarregados dos interrogatórios dos presos e deslocados da carceragem à sede da PF, onde os documentos foram guardados.

A PF reiniciará os depoimentos hoje, às 8 horas. Quem já depôs poderá ser ouvido novamente e há possibilidade de acareação entre os presos.

Parede falsa:

Imagens produzidas pela PF durante a operação e obtidas pelo programa Fantástico, da TV Globo, mostram o momento em que policiais encontraram R$ 10 milhões, 300 mil, jóias e relógios de luxo escondidos em um compartimento secreto, ocultado por uma parede falsa, em imóvel na zona norte. O dinheiro estava no escritório de Júlio Guimarães, sobrinho do bicheiro Aílton Guimarães, o Capitão Guimarães, presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio, também detido na Operação Hurricane. Ao vasculharem o escritório, policiais desconfiaram que um armário poderia esconder uma parede falsa. Depois de arrancar o fundo do móvel, os agentes usaram uma marreta contra a parede, que descobriram ser oca. Em seguida, examinaram o compartimento e se entusiasmaram ao descobrir o dinheiro. ¿Muita grana, moleque!¿, disse um policial. Eram dezenas de malotes com maços de R$ 10 mil.

O delegado da PF Emanuel Henrique de Oliveira levantou a suspeita de que outro bicheiro preso na operação da PF , Aniz Abraão David, o Anísio, presidente de honra da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, influenciou no resultado do desfile deste ano no Rio, vencido pela beija-flor.