Título: Mantega evita criticar BC para não barrar aceleração de corte
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2007, Economia, p. B3

O Comitê de Política Monetária (Copom) decide a nova taxa de juros esta semana à sombra de uma bandeira branca hasteada na Esplanada dos Ministérios. A torcida para que o Banco Central (BC) seja mais ousado e acelere o ritmo de queda dos juros continua existindo. Porém, não se vêem mais autoridades criticando o conservadorismo excessivo na condução da política de juros.

Pelo contrário: o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que costumava dar declarações pedindo ao Banco Central cortes mais fortes nos juros, na semana passada saiu em defesa da instituição.

'O BC tem de perseguir a meta de inflação. Essa é a sua incumbência, a sua missão.' Interlocutores de Mantega interpretam essas declarações não como sua adesão ao ideário do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mas como uma preparação de terreno para um corte mais forte nos juros. Por essa leitura, o Copom estaria se preparando para mudar o ritmo de queda dos juros, atualmente em 12,75%. Em vez de cortar 0,25 ponto porcentual, como nas últimas duas reuniões, a redução seria de 0,5 ponto. Esse movimento, porém, não poderia ser feito se Mantega pressionasse publicamente por um corte mais profundo, porque nesse caso a decisão do Copom pareceria política - e não técnica, como deve ser.

Entre os economistas de bancos e consultorias, porém, a aposta majoritária é que o corte ficará mesmo em 0,25 ponto porcentual. Eles reconhecem que há condições técnicas para uma redução mais forte, mas acham que ela não acontecerá.

'Do ponto de vista de análise de risco de inflação, a decisão em si poderia ser um corte de 0,5 ponto porcentual', disse o estrategista de investimentos sênior para América Latina do banco West LB, Roberto Padovani. 'Mas acho que a chance de isso ocorrer é quase zero, por uma decisão de estratégia do Banco Central.' Ele explicou que o Banco Central vem justificando sua cautela, nos últimos meses, afirmando não conhecer com exatidão os efeitos dos cortes de juros sobre a economia real e a inflação. Daí a opção por cortar o juro aos poucos. 'Não apareceu nada para refutar essa preocupação do Banco Central', disse Padovani. 'Se de repente o corte for de 0,5 ponto porcentual, o mercado ficaria confuso e, na incerteza, o juro futuro aumentaria.'

Para o estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, os sinais de força exibidos recentemente pela economia brasileira são motivo para não acelerar os cortes nos juros: 'O índice de ocupação da capacidade ociosa da indústria, o mercado de trabalho forte, a renda em alta, o crédito crescendo, as vendas a varejo em expansão, são todos fatores que podem gerar pressão inflacionária.' Além disso, a inflação tem sido pressionada pelos serviços e produtos que não sofrem influência da cotação do dólar, os chamados non-tradeables. Assim, ele acha que a tendência de valorização do real até ajuda a manter a inflação sob controle.