Título: Novo PIB abre espaço para juro cair mais
Autor: Graner, Fabio e Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2007, Economia, p. B5

Um dos efeitos da revisão dos números do Produto Interno Bruto (PIB) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é a provável redução da taxa de juros de equilíbrio do País. ¿Significa que o Banco Central (BC) poderá continuar cortando a taxa de juros por um tempo mais prolongado do que se imaginava antes¿, diz o economista Caio Megale, da Mauá Investimentos.

Calculada em muitos países com base em ampla série histórica, a taxa de equilíbrio ou neutra equivale ao patamar de juros em que a economia poderia funcionar de forma harmônica, ou seja, sem gerar descompassos entre demanda e oferta e crises nas contas externas. Para Megale, a melhora dos indicadores de produtividade e de solvência fiscal garante uma queda da taxa de equilíbrio do Brasil. ¿Não é nada muito grande. Mas podemos ter redução de algo como 6,5% para 6% (de taxa de juros real)¿, comenta.

O economista da MB Associados, Sergio Vale, é outro a apostar que o País ganhou espaço para trabalhar com juros mais baixos. ¿Podemos sair dos 8% reais de hoje e passar a testar 6%.¿ Com inflação de 4% projetada pelo mercado para 2008, a taxa nominal de juros poderia recuar dos atuais 12,75% para 10% ao longo do tempo.

Os dois economistas, no entanto, não acreditam na possibilidade de o BC vir a acelerar o processo de queda dos juros por conta da nova realidade. ¿O BC vai continuar cortando os juros em 0,25 ponto porcentual em cada reunião do Copom¿, diz Megale. A conquista de espaço maior para queda de juros, segundo ele, dependerá ainda da disposição do governo de manter o rigor da política fiscal.

¿Se o governo resolver aumentar os gastos por conta da queda da dívida líquida para cerca de 45% do PIB podemos colocar tudo a perder. É preciso manter a política de austeridade fiscal¿. Para um ex-integrante da equipe econômica, as indicações dadas pelo governo na área fiscal estão no caminho certo. ¿Não vejo nenhuma preocupação quanto ao desempenho fiscal do governo. Nesta área, está tudo tranqüilo.¿

O mais importante, na opinião de Megale, é que a dívida continue em trajetória de queda. Outra dúvida é quanto ao ritmo de crescimento da economia. ¿Se olharmos o segundo semestre, a economia estava se expandindo a uma taxa anualizada de 6%. E tudo indica que entramos 2007 no mesmo ritmo.¿

A taxa, segundo Megale, já é maior do que o PIB potencial do País, que estaria hoje entre 4% e 4,5% (taxa de crescimento compatível com ambiente de inflação dentro das metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional). ¿Isto é algo que o BC terá de observar com mais atenção nas suas decisões sobre política monetária.¿

Também o economista-chefe da GAP, Alexandre Maia manifesta preocupação. ¿A economia poderá até crescer 4,5% neste ano. Mas terá de haver alguma desaceleração em 2008 para algo entre 3,8% e 4%. Mantidas as condições atuais da economia, seria impossível imaginar um crescimento de 5% no próximo ano.¿

Com ponto de vista diferente, o economista da MB Associados, Sergio Vale, acha que a questão do diferencial entre o crescimento efetivo do PIB e o PIB potencial perdeu peso nas decisões do BC de curto prazo.