Título: Lula amplia espaço dos 'ortodoxos'
Autor: Graner, Fabio e Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2007, Economia, p. B5

O setor produtivo está perdendo espaço dentro do governo Luiz Inácio Lula da Silva. A saída do economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida da secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda na semana passada foi a terceira grande baixa, em menos de um ano, de uma ala do governo de perfil ¿desenvolvimentista¿, fortemente associada à produção paulista, que questionava a política monetária do Banco Central e batalhava por desonerações tributárias.

Antes de Almeida, que foi economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, deixaram o governo os ex-ministros Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, e Roberto Rodrigues, da Agricultura, ambos ligados à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e vozes dissonantes da condução da política monetária. Furlan foi vice-presidente da Fiesp antes de entrar no governo, enquanto Rodrigues, no ano passado, saiu da Agricultura para presidir o Conselho Superior do Agronegócio da entidade.

Uma fonte do setor produtivo considera que há de fato um fortalecimento do pólo mais ortodoxo da administração, que tem o presidente do BC, Henrique Meirelles, como seu maior representante. Para esse analista, a substituição de Furlan por Miguel Jorge é simbólica. Apesar de executivo com passagem pela indústria automotiva paulista, Jorge estava há vários anos no Banco Santander, de onde saiu para ocupar o Desenvolvimento. ¿A indicação de um executivo de banco mostra apoio ao Henrique Meirelles¿, disse essa fonte.

É bem verdade que, antes de se decidir por Miguel Jorge, Lula tentou nomes que se tornaram ícones do setor produtivo, como o dono do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, ou o ex-presidente da Embraer, Maurício Botelho. Mas as indicações de Bernard Appy, o mais ortodoxo dos assessores de Guido Mantega, da Fazenda, para o lugar de Júlio Almeida; e de Reinhold Stephanes, ex-ministro da Previdência e defensor de uma reforma no sistema, para a Agricultura; reforçam a tese do afastamento. Para um interlocutor do governo, Almeida, Furlan e Rodrigues ¿representavam os anseios dos empresários paulistas.¿

A avaliação, entretanto, não é consensual. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique da Silva Santos, acredita que ainda há no governo um grupo significativo ¿com visão progressista, apesar do BC¿. Ele vê com otimismo a gestão de Miguel Jorge no Desenvolvimento, porque acredita que será mais voltada para o mercado interno.

O economista da PUC-SP Antônio Corrêa de Lacerda, considera que independentemente das pessoas que ocupam os cargos no governo, os problemas que afetam o setor produtivo terão de ser enfrentados.