Título: Governo ganha tempo para negociar com PF
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2007, Nacional, p. A7

O governo ganhou pelo menos 24 horas na tensa negociação com os líderes das carreiras da Polícia Federal. Sob alegação de que um técnico do Ministério do Planejamento estaria em viagem a São Paulo, a assessoria do ministro Paulo Bernardo adiou a reunião com os policiais para amanhã à tarde. O encontro estava marcado, inicialmente, para hoje em Brasília.

'Aumenta a ansiedade', declarou Sandro Avellar, presidente da Associação Nacional dos Delegados da PF. Os federais querem imediato reajuste salarial de 30%, mas o governo resiste porque pretende impor contingenciamentos. A base da reivindicação da PF é um documento assinado em 2 de fevereiro do ano passado pelo então ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos. A pendência é o primeiro grande desafio do novo ministro da Justiça, Tarso Genro, que abriu negociação com os federais. A PF é subordinada à pasta dirigida por Tarso.

O acordo fechado no ano passado pelo Ministério da Justiça com o Grupo de Entidades Representativas de Classe (Gerc) da PF prevê pagamento de 60% em duas parcelas de 30%. A primeira foi quitada em julho. A segunda deveria ter sido paga em dezembro, mas não foi.

Os federais acusam o governo de dar um calote. Na última semana de março, eles decidiram fazer um protesto de advertência que alcançou 25 das 27 superintendências regionais. A paralisação de 24 horas afetou diretamente o andamento de 38 mil inquéritos em quase todo o País. Pelo menos 4 mil passaportes deixaram de ser expedidos, segundo balanço da Federação dos Delegados da PF. Na semana passada, os federais ameaçaram com uma operação-padrão nos principais aeroportos e portos, mas recuaram por dois motivos.

Primeiro, avaliaram que a ofensiva poderia causar novo caos, a exemplo do provocado pelos controladores de vôo há duas semanas. 'O movimento dos controladores, cuja raiz ainda não é bem conhecida, ganhou a antipatia da população', declarou Armando Rodrigues Coelho Neto, da Federação dos Delegados. 'Já temos acordo firmado com o governo.'

O recuo foi decretado em assembléias extraordinárias de delegados e agentes. O movimento dividiu os federais. Moderados não queriam operação-padrão. Radicais queriam parar os aeroportos. Em São Paulo, o Sindicato dos Policiais Federais acenou com paralisação se o governo não acatar o que foi acertado há mais de um ano. 'Caso o acordo não seja satisfatório a paralisação será feita em todos os setores da PF partindo para greve geral', alerta a entidade.

Também pesou na decisão dos federais o fato de o governo abrir uma data na agenda oficial para negociar. Marcos Vinício Wink, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, foi informado que o encontro de hoje teria de ser adiado por causa da ausência de um dos técnicos do Planejamento. 'O motivo alegado foi esse', declarou Wink. 'Uma hora vão ter que definir. Adiaram uma vez. Outro adiamento não vão poder. Vão ter que dar um jeito.'