Título: Kirchner enfrenta a primeira greve
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2007, Internacional, p. A13

Dezenas de milhares de pessoas participaram ontem de 300 manifestações nas principais cidades argentinas para exigir justiça no caso do assassinato do professor da rede pública Carlos Fuentealba, ocorrido na semana passada nos arredores da cidade de Neuquén, no sul da Argentina. Fuentealba foi assassinado por um policial durante uma manifestação para exigir maiores salários. Os professores, em repúdio, realizaram uma greve nacional de 24 horas - que uniu as duas maiores centrais sindicais do país, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) e a Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA), pela primeira vez em 15 anos.

A manifestação não se dirigiu diretamente contra o presidente Néstor Kirchner. Mas o movimento se constitui na primeira greve de peso desde sua posse, em maio de 2003. Até agora, o governo Kirchner tinha conseguido evitar manifestações cooptando os líderes sindicais.

Analistas indicam que a greve é um sinal de alerta para o governo, que nesta semana enfrenta negociações tripartites (sindicatos, empresas e governo) sobre aumentos salariais para setores importantes (telefônicos, metalúrgicos, empregados de bares e restaurantes, funcionários do Poder Judiciário e ferroviários). Os sindicatos exigem aumentos superiores a 15% - acima da inflação oficial de 2006, de 9,8%. Os sindicalistas argumentam que o governo camuflou a inflação real, que teria sido de 15%.

Os manifestantes também exigem a renúncia do governador de Neuquén, Jorge Sobisch - candidato à presidência nas eleições de outubro. Apesar da crise, Sobisch defendeu a ação da polícia e sustentou que não renuncia à candidatura.

Os professores estão acampados na porta do palácio do governador e prometem não sair dali até que Sobisch renuncie.

Fuentealba, um professor de química de 41 anos, participava de um buzinaço para exigir aumentos salariais, quando um policial disparou, quase à queima-roupa, uma granada de gás lacrimogêneo. O projétil afundou seu crânio e o levou ao coma. Na sexta-feira, Fuentealba faleceu.

A manifestação mais violenta de ontem ocorreu em Salta, no norte da Argentina, onde a polícia reprimiu o protesto dos professores que entraram no edifício da Assembléia Legislativa. Os policiais usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha.

O ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989) enfrentou 13 greves nacionais. Carlos Menem (1989-1999), oito, em dois mandatos. Fernando De la Rúa, que ficou no poder apenas entre 1999-2001, foi o alvo de nove greves.