Título: China avança como parceira dos países africanos
Autor: Racy, Sonia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2007, Economia, p. B2

Há dois anos, quando foram eliminadas as restrições do Acordo de Têxteis e Vestuário da OMC, a China aparecia como a principal ameaça às posições conquistadas por pequenas economias africanas nos mercados europeu e americano desses produtos. Hoje, porém, a China está passando de vilã a heroína na África, segundo análise publicada recentemente no boletim Comércio Exterior em Perspectiva, da CNI. Com apetite insaciável por matérias-primas agrícolas, florestal, minerais e petróleo, exportando manufaturas de todo tipo e com enorme quantidade de recursos, que lhe permitem financiar dívidas de países mais pobres, a China vem-se tornando uma parceira comercial e de investimentos prioritária nos países africanos.

O continente, segundo constata a CNI, está se transformando no grande supridor de recursos energéticos para a China e isso tem se refletido fortemente nos fluxos de comércio e de investimento. 'A China é hoje o destino de cerca de 10% das exportações da África subsaariana e essa proporção é muito maior no caso de alguns países exportadores de petróleo, como Angola, Congo, Zâmbia e Sudão.' Na mão contrária, as exportações chinesas para a África também crescem exponencialmente, substituindo fornecedores ocidentais. 'Em muitos países africanos, parte importante da população só teve acesso ao consumo de bens industrializados a partir da entrada dos produtos chineses', diz o paper. O fato é que o comércio sino-africano tem crescido a taxas anuais acima de 20%. Em 95, não passava de US$ 3 bilhões; em 2006, superou os US$ 40 bilhões.

Obviamente, nem tudo são flores nessa aproximação: analistas já manifestaram preocupações com as conseqüências de uma parceria econômica em que à África cabe apenas o papel de fornecedora de matérias-primas. Já instituições multilaterais e ONGs se inquietam 'com as implicações sobre a qualidade institucional dos regimes políticos africanos, tradicionalmente minados pela corrupção e baixa transparência'. Praticamente sem condicionalidades, os empréstimos chineses contribuiriam para manter um status quo problemático do ponto de vista da democracia e do funcionamento dos mercados.

IMPRESSÃO DIGITAL

Fabio Barbosa, do ABN/Amro, inaugura uma nova era na Febraban. Pela primeira vez na história, a federação abre espaço na presidência para um executivo de banco estrangeiro. Sempre foram os bancos nacionais a comandar a entidade. Mas isto não deve mudar o atual relacionamento da classe.

Ontem, todo o setor financeiro esteve presente à festa de posse de Barbosa, no Grand Hyatt, o que dificilmente acontece nas associações e federações da indústria. Nem uma só instituição financeira deixou de enviar um representante de peso. No palco, sentados, certamente 80% do PIB financeiro do País.

NA FRENTE

BOM SENSO

Membros do conselho curador do FAT estão impressionados com a falta de critério do Ministério da Fazenda, que inventou o Fundo de Recebíveis do Agronegócio, com funding de R$ 2,2 bilhões, do FAT. A MP era para ter sido assinada ontem pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e editada ontem mesmo. O texto foi montado e assinado semana passada pelos ministros Guido Mantega e Reinhold Stephanes.

Na era Palocci, isto jamais passaria.

AGÊNCIAS

O senador petista Delcídio Amaral e o tucano Tasso Jereissatti vão dividir uma das mesas-redondas sobre prestação de contas das agências regulatórias na 3ª Jornada da Regulação, do Ipea, na próxima semana, no Rio.

Em pauta, temas polêmicos como apagão aéreo, licenciamento ambiental e leilões de petróleo.

EFEITO

Para a Fecomércio-SP, o impacto do novo salário mínimo, que entrou em vigor no dia 1º, sobre a inadimplência será pequeno.

Segundo seus analistas, os consumidores estão muito endividados, sobretudo os que ganham até três mínimos. E o incremento de renda não parece suficiente para reduzir o problema no curto prazo.

NAS NUVENS

Em dia de bom humor, o Ibovespa bateu recorde histórico de alta: esteve acima dos 47 mil pontos boa parte do dia. E o risco Brasil registrou recorde de baixa: na mínima, esteve em154 pontos-base.

O PREDESTINADO

Sobe a estrela do executivo financeiro Gustavo Murgel.

BALANÇA

Para José Augusto de Castro, da AEB, o crescimento das exportações na primeira semana de abril surpreendeu, pois a nova safra nem sequer começou a ser embarcada. Embora considere que a tendência seja mesmo de as importações continuarem a crescer porcentualmente acima das exportações, avalia que as vendas externas devem registrar um pequeno aumento daqui para a frente.

Motivo: no dia 1º passaram a vigorar os novos preços do minério de ferro: alta de 19%.

TIMING

A dúvida cruel dos mercados - o BC vai ou não entrar no mercado de derivativos para contornar o problema do câmbio? - está se transformando em uma constatação.

O BC demorou tanto para tomar a decisão que, agora, acreditam, a decisão não terá mais o efeito pretendido.