Título: Planalto tenta se descolar do debate sobre fim da reeleição
Autor: Madueño, Denise e Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2007, Nacional, p. A6

A ordem do Palácio do Planalto é retirar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do centro da discussão sobre o fim da reeleição. Ontem, Lula pediu aos líderes e presidentes dos partidos aliados que decidam logo sobre a manutenção ou extinção do dispositivo. O apelo foi feito na abertura da reunião do Conselho Político e relatado por participantes do encontro. Lula disse aos aliados que a iniciativa de pôr fim à reeleição não é dele, embora seja contrário à possibilidade de presidente da República, governadores e prefeitos disputarem um segundo mandato consecutivo.

¿Daqui a pouco vão dizer que eu quero o fim da reeleição para poder voltar em 2014. Eu nem sei se estarei vivo até lá¿, disse o presidente, segundo relato do líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE), depois da reunião. A discussão sobre o fim da reeleição deverá ser feita assim que a Câmara concluir a votação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), dentro de uma proposta de reforma política, segundo pediu Lula na reunião.

¿Ele (Lula) disse que não quer se envolver nessa questão diretamente, mas entende que é urgente que se faça a reforma política¿, contou o líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR). ¿O fim da reeleição estará na pauta, mas isso não é uma bandeira dele. É uma questão do Congresso, e não do presidente da República.¿ Segundo o líder do PR, Lula argumentou que a sociedade cobra a reforma política.

Na tentativa de apressar o processo, o governo escalou o ministro da Justiça, Tarso Genro, para participar das articulações ao lado de Walfrido Mares Guia, das Relações Institucionais. Tarso estará na reunião do Conselho Político na próxima semana, quando serão discutidos pontos da reforma política.

Só de parlamentares tucanos, há duas propostas semelhantes que acabam com a reeleição. A do presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), e a do ex-líder na Câmara Jutahy Júnior (BA). Ambas prevêem o fim da reeleição a partir de 2010, mas permitem que os governadores que estão em seu primeiro mandato concorram mais uma vez ao cargo. É o caso de José Serra (PSDB), em São Paulo, e de Sérgio Cabral (PMDB), no Rio. O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB-MG), e o próprio Lula não poderiam concorrer porque estão no segundo mandato.

O fim da reeleição é polêmica. O líder do governo na Câmara, por exemplo, defende sua manutenção. ¿A reeleição é um avanço. Não é casuística, senão todos se reelegeriam¿, argumentou Monteiro. Ele considera que a experiência de reeleição ainda é curta - uma de Fernando Henrique Cardoso e a de Lula - para dizer que não deu certo.

Na conversa com os líderes, Lula voltou a criticar seu antecessor, por ele ter pedido a políticos do PSDB que não defendessem a proposta que pretende acabar com o direito à reeleição. Na opinião de Fernando Henrique, o fim do dispositivo permitirá que Lula concorra de novo à Presidência em 2014 sem ter de disputar com o sucessor a ser eleito em 2010.

FRASES

Luciano Castro Deputado (PR-RR)

¿Lula não quer se envolver, mas entende que é urgente que se faça a reforma política¿

José Múcio Monteiro Deputado (PTB-PE)

¿A reeleição é um avanço. Não é casuística, senão todos se reelegeriam¿.