Título: Dividido, PT debate proposta hoje no Diretório Nacional
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2007, Nacional, p. A7

O PT está rachado sobre a proposta que prevê o fim da reeleição. Apesar dos apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por uma decisão rápida, o partido ainda não chegou a um acordo sobre a conveniência de encaixar o polêmico tema na proposta de reforma política. Trata-se de mais um dos muitos impasses que marcam as atuais relações entre Lula e o PT e que serão debatidos hoje, na abertura da reunião do Diretório Nacional petista, em Brasília.

¿O fim da reeleição não tem consenso no PT¿, afirmou o presidente nacional da legenda, deputado Ricardo Berzoini (SP). Ele próprio é favorável à proposta, no mesmo formato defendido pelo presidente Lula, com aumento do mandato de quatro para cinco anos.

Com ou sem reeleição, Berzoini disse que no Congresso o PT tentará emplacar a reforma política até junho. ¿Se o Congresso não iniciar a votação no primeiro semestre, a tendência é que o assunto vá para as calendas¿, argumentou.

Na prática, o governo já trabalha com esse cenário de atraso de votações no Congresso, diante da possibilidade de instalação de duas comissões parlamentares de inquérito - uma na Câmara e outra no Senado - para investigar o caos aéreo. ¿Esperamos que o Congresso não faça videotape de filme ruim e ainda por cima em marcha lenta¿, provocou a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).

A senadora reforça o coro dos petistas que têm dúvidas sobre a oportunidade de o partido apoiar a proposta de fim da reeleição quando uma parcela significativa do tucanato quer a mesma coisa. ¿Nós não temos interesse em dar fôlego a nenhuma iniciativa que não leve em conta a espinha dorsal da reforma política, que, para nós, é a fidelidade partidária e o financiamento público de campanha¿, explicou Ideli.

DEBATE

Embora não conste da pauta oficial, o debate sobre a montagem do governo no segundo mandato de Lula promete agitar o encontro do Diretório Nacional petista, que vai até amanhã. Contrariados com o presidente por perderem cargos estratégicos na equipe para o PMDB e outros partidos da coalizão, dirigentes do PT asseguram que não esconderão mais as insatisfações.

¿Se alguém disser que isso não será discutido na reunião do diretório, deve estar com algum problema na cabeça¿, ironizou o secretário de Organização, Romênio Pereira, um dos principais líderes da corrente Movimento PT. Essa é a facção do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), e não foi contemplada com nenhum ministério na divisão de cargos. Agora, está de olho no comando dos Correios, empresa atualmente administrada pelo PMDB.

A disputa por cargos também opõe o grupo Movimento PT ao antigo Campo Majoritário, tendência de Lula e dos ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci. Integrantes do Movimento PT lembram que a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy foi a única petista que entrou agora no ministério de Lula, ao receber a pasta do Turismo. Marta é justamente do Campo Majoritário.

¿O PT precisa pensar na política do partido como um todo e não em cargos para cada tendência¿, reagiu o deputado Carlos Zarattini (SP), que faz parte do grupo ligado a Marta Suplicy. ¿Nós temos de saber defender nossos interesses, mas reconhecendo os dos outros também, porque o compartilhamento de espaços é uma realidade¿, emendou Berzoini, numa referência ao PMDB.

HADDAD

Rifado pela cúpula do PT por mais de um mês - quando o partido ainda tentava encaixar Marta em um espaço com visibilidade na Esplanada -, o ministro da Educação, Fernando Haddad, é um dos convidados do encontro. Haddad fará uma exposição sobre o Programa de Desenvolvimento da Educação para uma platéia que já tentou tirá-lo do cargo.