Título: Partido de Chávez adota a estrela
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2007, Internacional, p. A13

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aproveitou-se ontem da celebração do dia da independência de seu país para receber o juramento de 16.787 novos militantes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) - a legenda 'roja-rojita' ('vermelha-vermelhinha') que reunirá todas as vertentes do chavismo e copia, como símbolo, a estrela vermelha do PT brasileiro. A cerimônia lotou o ginásio de esportes Poliedro, em Caracas, de eleitores vestidos com camisetas vermelhas. Com os braços esquerdos levantados e os punhos cerrados, a multidão repetiu o juramento de fidelidade ao novo partido, ditado por Chávez.

Minutos antes, nas ruas centrais da capital venezuelana, manifestantes reunidos pelo Um Novo Tempo, partido de oposição, protestavam contra a decisão de Chávez de negar a renovação da concessão da rede de rádio e televisão RCTV, como retaliação a sua linha editorial oposicionista. No prédio da representação da Organização dos Estados Americanos (OEA), o governador do Estado de Zulia e candidato derrotado à presidência em 2006, Manuel Rosales, e outros líderes da oposição entregaram um documento de crítica à falta de democracia no país e em favor da liberdade de expressão.

'A RCTV será fechada no próximo dia 24 de maio', reforçou Chávez aos militantes do PSUV reunidos no Poliedro. 'Que viva a estrela vermelha do socialismo bolivariano! Contra ela se destroçarão os contra-revolucionários, os imperialistas, as conspirações', disse. 'Estamos construindo uma máquina política extraordinária. Se houver uma agressão contra a Venezuela, esse partido pode se tornar um exército de resistência', completou, ofegante e suado, depois de cantar um jingle revolucionário.

O novo partido unifica as legendas da base governista da Venezuela sob a bandeira ideológica de Chávez e será um dos pilares do seu projeto político de permanecer na presidência pelo menos até 2021. Controlando o Congresso e a Corte Suprema de Justiça, protegido pela Guarda Presidencial e por uma milícia popular espalhada por todo o país - a Guarda Nacional -, Chávez agora investe na consolidação do seu partido.

Os novos militantes - chamados de 'propulsores' - organizarão as bases regionais e cooptarão outros filiados. Até o final do ano, eles devem passar dos atuais 19.185 - os 2.398 que juraram no final de março mais os 16.787 de ontem - para 70 mil. Em 2 de julho, começarão a ser formadas novas células partidárias, os 'batalhões socialistas' e, no dia 24, serão escolhidos os 2.200 delegados regionais.

Chávez foi o centro de um espetáculo no qual cantou músicas românticas e pulou como criança, atrasando em mais de cinco horas o almoço que seria servido, de graça, aos novos 'propulsores'. Ele defendeu a 'disciplina revolucionária' e a 'luta pela moral pública', por meio do confisco de caminhões de bebidas alcoólicas e o combate aos bordéis e cassinos.

'Comecem amanhã mesmo', conclamou o presidente. 'Vamos nos livrar de tantos vícios. Uma das tarefas desse partido é curar a sociedade doente de consumismo, tabagismo, alcoolismo, corrupção e roubalheira.'