Título: Crescimento chinês de 11,1% assusta mercados internacionais
Autor: Lara, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2007, Economia, p. B1

Dois importantes indicadores divulgados ontem pela China mexeram com os mercados no mundo todo. Um deles foi o Produto Interno Bruto (PIB) relativo ao primeiro trimestre, que se expandiu 11,1% em relação a igual período do ano passado. Outro foi o Índice de Preços ao Consumidor, que registrou alta de 3,3% nos 12 meses encerrados em março. A meta do governo é de 3%. Os números deixaram claro para os analistas que o gigante asiático terá de desacelerar o ritmo de crescimento econômico. E fará isso por meio de novos apertos na política monetária.

Os economistas já apostam em novo aumento da taxa de juros chinesa nos próximos dias. Shen Minggao, analista do Citigroup, prevê ¿um aumento de 0,27 ponto porcentual até maio e outro, de 1 ponto, na taxa de reserva requerida dos bancos até o fim do ano¿. ¿Outras medidas são esperadas, mas em processo gradual¿, acrescentou Shen. Atualmente, o juro dos títulos do Tesouro chinês com vencimento em 10 anos é de 3,33% ao ano.

O economista Mark Williams, da Capital Economics, também espera alta de 0,27 ponto porcentual da taxa de empréstimo e de depósito, mas já para ¿os próximos cinco dias¿. Ele acredita que ¿outros controles administrativos serão introduzidos nas próximas semanas¿.

O porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas da China, Li Xiaochao, confirmou que a China elevará as taxas de juro se a economia ficar superaquecida. ¿Elevar ou não a taxa de juro dependerá de a economia estar indo de um crescimento relativamente rápido para o superaquecimento¿, disse Li. ¿Se o ritmo do crescimento econômico continuar aumentando, isso pode deixar a estrutura econômica irracional¿, disse Xiaochao, destacando que o governo tomará os ajustes macroeconômicos ¿apropriados¿ dependendo da situação econômica.

A expectativa de uma desaceleração do crescimento chinês se refletiu em diversos mercados. A começar pela Bolsa de Xangai. O Índice Xangai Composto caiu 4,52%, a maior queda diária em porcentagem desde 27 de fevereiro, quando o índice desabou 8,8%. O Shenzhen Composto recuou 4,9%.

No mercado de commodities, o petróleo para entrega em maio recuou 2,06% na Bolsa Mercantil de Nova York. O cobre em Londres caiu 2%. Nas bolsas européias, as ações de empresas mineradoras tiveram um mau dia: os papéis da Rio Tinto perderam 1,3%, os da BHP Billiton, 1,1%, e os da Antofagasta, 2,1%. ¿Se os custos dos empréstimos subirem na China, poderá haver interrupção temporária das importações de cobre, aço e carvão¿, explicou David Buik, analista da Cantor Index.

Os efeitos globais só não foram maiores porque uma série de balanços positivos de empresas americanas ajudou a limitar as perdas. Os resultados da farmacêutica Merck e da empresa de equipamentos de telecomunicações Nokia, por exemplo, superaram as projeções. No Brasil, a perspectiva de cortes maiores da taxa básica de juros (Selic) também limitou o pessimismo com a China (mais informações ao lado).

ACIMA DO ESPERADO

O governo chinês tinha previsto que o PIB cresceria entre 10,5% e 11% no primeiro trimestre do ano, por causa da alta das exportações, do consumo e do investimento. As primeiras análises oficiais indicavam um avanço de 9% a 10,2% durante o trimestre e abaixo de 10% no resto do ano. Em 2006, o PIB chinês cresceu 10,7%.

O economista chefe do UBS para a Ásia-Pacífico, Jonathan Anderson, afirmou, em relatório, que os dados da China ¿essencialmente não significam nada em termos de política macroeconômica futura e não esperamos que haja alguma resposta política além dos genéricos ajustes nas taxas de juros, que não devem ter implicações negativas para os mercados e o crescimento¿.

Para Anderson, o crescimento do PIB chinês é temporário e não deve chamar um aperto monetário forte. Quanto ao aumento do índice de preços aos consumidores, Anderson declarou que a alta foi motivada basicamente por alimentos. ¿O núcleo da inflação prossegue muito baixo.¿