Título: O atraso dos juros
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2007, Economia, p. B2

O racha do Copom está dizendo coisas que precisam ser devidamente pesadas.

Quarta-feira, quase metade dos diretores do Banco Central votou contra a ¿parcimônia¿ com que, desde novembro, o Copom vem conduzindo a política de juros. Em vez de um corte de 0,25 ponto porcentual, defenderam corte de 0,5 ponto.

¿Parcimônia¿ é a expressão cunhada pelo Banco Central para indicar redução do corte dos juros. Há indicações de que o Banco Central avaliou mal o comportamento da inflação nos últimos 12 meses. Não contava com uma inflação tão abaixo do centro da meta (4,5%) no ano passado (deu 3,14%). Tanto não contava que, em junho, quando da fixação da meta de inflação de 2008, seus dirigentes falavam que seria muito mais difícil trazer a inflação de 4,5% para 4% do que foi trazer de 7,6% (inflação de 2004) para 5,7% (inflação de 2005). Seria como baixar o tempo de uma corrida de 100 metros rasos de 10 segundos para 9,9. Então, se, ao contrário, foi tão fácil chegar aos 3,14% já em 2006, se conclui que os dirigentes do Banco Central não contavam com isso.

Seus modelos econométricos não deram (talvez continuem não dando) importância a fatores novos que têm contido a inflação, como aumento da produtividade da economia e o câmbio mais valorizado, que facilitou as importações e a entrada de produtos mais baratos. São fatores que seguram os reajustes internos (pass-through) e estimulam a queda global dos preços dos produtos industrializados.

Embora reconheça, em tese, que a previsibilidade da economia seja, por si só, fator de contenção dos preços, na prática o Copom também não levou em conta que um câmbio mais estável e juros sem solavancos estão aprofundando esse efeito.

Foi por tais falhas de análise que, desde abril de 2006, o Banco Central advertia, cedo demais, que teria de abrir o período de rédeas mais curtas para deter o risco de novo surto inflacionário. Assim, o emprego da tal parcimônia foi sendo adiado diante dos resultados que não a justificavam.

Outro argumento apresentado pela diretoria do Banco Central para manter uma política mais conservadora do que a necessária é o de que é preferível manter juros mais baixos por mais tempo do que cortar mais fundo e ter depois de voltar repentinamente atrás.

A diretoria do Banco Central temia que a adoção de cortes maiores de juros poderia exigir a retomada da alta e isso, além de confundir o mercado, complicaria a política de gerenciamento de expectativas. A situação se inverteu. O emprego prematuro da parcimônia passou a exigir o retorno a cortes mais rápidos, como a forte dissidência dentro do Copom está mostrando.

E há mais vindo aí. O rápido crescimento das reservas está melhorando a qualidade da dívida brasileira. A queda do prêmio de risco (ontem nos inéditos 149 pontos) e a proximidade do reconhecimento de grau de investimento dos títulos brasileiros vão apressar também a queda da Selic. Mas nenhuma indicação do Banco Central aponta para isso.

E, se quase metade do quórum do Copom está contra a parcimônia, então há mais gente fina dizendo que o Banco Central está atrasado com os juros.