Título: Um Copom mais aberto
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2007, Economia, p. B2

O Comitê de Política Monetária (Copom) tomou ontem sua decisão sob forte pressão para abandonar a excessiva ortodoxia que o guiava. Resistiu a essa pressão ao cortar apenas 25 pontos porcentuais da taxa Selic, mas a decisão não foi unânime, já que 3 dos 7 membros votaram a favor de uma redução de 50 pontos porcentuais.

A decisão teve a participação de Rodrigo Azevedo, afastado do Banco Central por ser considerado da ala conservadora, pois a nomeação do seu sucessor, Mario Torós, não fora ainda publicada no Diário Oficial. Embora a ata do Copom, ao contrário das do Fomc e do Fed (banco central norte-americano), não publique os nomes de quem votou de uma maneira ou de outra, é de se imaginar que o ex-diretor de Política Monetária juntou-se à ala conservadora.

O importante nessa decisão é que sinaliza uma modificação na atitude do organismo, que apenas em parte se explica pela substituição de alguns membros, mas também pela pressão da opinião pública e pelo estado dos fundamentos econômicos.

Já na reunião do Copom em novembro do ano passado, 3 dos seus membros votaram contra a redução de 50 pontos porcentuais da Selic. Foi a sinalização de que na reunião seguinte, em janeiro deste ano, as autoridades monetárias poderiam optar por uma posição mais cautelosa, o que realmente se verificou, com o corte de apenas 25 pontos porcentuais.

Daí a esperança de que, no seu próximo encontro, o Copom decida votar um corte mais substancial da Selic, especialmente considerando que a nova equipe estará plenamente formada e reunida.

Há justificativas para isso: a inflação continua abaixo da taxa fixada pelo Conselho Monetário Nacional; a produção industrial está se recuperando, porém sem exagero; e se mantém a certeza de que a importação poderá, sem dificuldades, cobrir um eventual gap entre demanda interna e produção industrial.

A preocupação com uma possível elevação da taxa básica de juros nos EUA, que teria repercussões negativas no Brasil, não se justifica a curto prazo, uma vez que foi afastada a hipótese de violenta queda da atividade econômica naquele país.

À luz das novas nomeações decididas pelo governo Lula, a política econômica brasileira parece caminhar no sentido contrário ao do conservadorismo, e isso pode inspirar os membros do Copom, que só diante de um novo surto inflacionário poderiam retomar uma atitude mais ortodoxa.