Título: Serra retoma programa de privatização e planeja vender Cesp
Autor: Bahnemann, Wellington e Lopes, Elizabeth
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2007, Economia, p. B6

Uma possível privatização da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) voltou à tona com a publicação, ontem, no Diário Oficial do Estado, da retomada do Programa Estadual de Desestatização (PED), iniciado na gestão do ex-governador Mário Covas (PSDB), na década de 90. A companhia está incluída nesse programa desde 1996. A Cesp é a maior empresa de geração de energia do Estado e a terceira maior do País, respondendo por 58% d a energia produzida em São Paulo e por quase 12% da produção nacional.

A notícia foi divulgada ontem pelo jornal Valor Econômico, que disse que a decisão de retomar a venda da Cesp ainda não teria sido tomada, mas reuniões marcadas para a próxima semana poderiam definir o cenário.

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), negou que exista alguma decisão de sua administração sobre a privatização da empresa. ¿Não li, ainda, a matéria (do jornal). Não há ainda uma decisão de governo (sobre o tema)¿, destacou, após participar do lançamento do Projeto Virada Cultural Paulista, na Secretaria da Cultura. Mas Serra não descartou que o assunto tenha sido discutido. ¿É um assunto que foi levantado como uma possibilidade.¿ E emendou: ¿Eu acho que está se avançando um pouco o carro na frente dos bois¿.

DECRETO

O decreto nº 51.760 do governo do Estado publicado ontem repassa à Secretaria da Fazenda a atribuição de ¿proceder a coordenação dos estudos técnicos relativos ao levantamento, avaliação, modelagem e execução de venda de participações societárias detidas pelo Estado¿. Segundo o documento, essa nova incumbência também se aplica ¿às empresas incluídas no Programa Estadual de Desestatização (PED)¿.

Conforme o Diário Oficial, a Secretaria da Fazenda terá como missão ¿instituir grupos técnicos de trabalho¿ e ¿proceder à contratação de auditorias independentes, de consultorias especializadas, de sociedades de advogados, de pareceres e de estudos técnicos de avaliação econômico-financeira, de modelagem e de execução de venda¿. Os estudos vão subsidiar a tomada de decisões pelo Conselho de Defesa dos Capitais do Estado (Codec) e pelo Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização.

Com a expectativa de retomada da privatização da estatal, as ações PNB da Cesp lideraram o ranking de maiores altas do Bolsa paulista ontem, com ganho de 6,49%, cotadas por R$ 29,50, após 1.810 negócios.

CONSÓRCIOS

Para analistas, empresas interessadas em adquirir a Cesp, caso se concretize sua privatização, deverão se articular em parceria. ¿Empresas como Energias do Brasil e CPFL não têm fôlego para comprar individualmente o ativo¿, disse Marluce Araújo, analista do setor elétrico do Banco do Brasil. Para o mercado, as mais cotadas para disputar a Cesp são CPFL, Energias do Brasil e Tractebel (que já manifestaram interesse no ativo) e Cemig.

Pela cotação das ações no fechamento de ontem, o valor de mercado da estatal seria de R$ 9,66 bilhões e os 33,37% que o governo paulista detém valeriam R$ 3,21 bilhões. ¿Nesse cenário, é mais factível imaginar a formação de consórcios¿, avaliou Felipe Cunha, analista da Brascan Corretora.

Entre os analistas, o interesse de Serra em se desfazer do ativo não surpreendeu. ¿A operação faz sentido para o Estado de São Paulo. A Cesp está endividada e não há perspectiva para realizar novos investimentos¿, disse um analista. ¿Isso já era esperado. O próprio orçamento do Estado de São Paulo já contemplava receita com a venda de participações¿, avaliou Cunha. Apesar do elevado nível de endividamento,os ativos da Cesp são ¿extremamente valiosos¿ no atual cenário de consolidação do setor elétrico, disse Cunha.

A grande dúvida no mercado é a modelagem de venda a ser escolhida pelo governo paulista, questão que permanece em aberto.