Título: Subúrbios apóiam socialista
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2007, Internacional, p. A8

Na periferia de Paris em que os conflitos entre jovens e a polícia eclodiram com mais força em outubro e novembro de 2005, Ségolène Royal foi a mais votada, mas a eleição presidencial não contagiou como no restante do país. Em Seine-Saint-Denis, departamento onde a ida às urnas é historicamente baixa - na França, o voto é facultativo -, o comparecimento de eleitores foi 7% maior do que em 2002, mas 12,21% menor do que a média do país, de acordo com dados parciais do Ministério do Interior.

Apesar da adesão baixa, comparada à do restante do país, a região atraiu as atenções da opinião pública por ter exposto as vísceras da tensão social latente na França. Na divisa de Paris e Seine-Saint-Denis, região onde a concentração de imigrantes da Argélia, do Marrocos e da Tunísia é elevada, a expectativa dos estrangeiros era de que Ségolène Royal, a candidata do Partido Socialista, triunfasse diante do rival conservador Nicolas Sarkozy, ex-ministro do Interior, candidato da União pela Democracia Francesa (UDF).

Jean Gomis, mecânico aposentado de 79 anos, negro argelino, votou pela manhã e garantiu que acompanharia com atenção o resultado. Sem revelar nomes, deixou escapar sua preferência pela socialista. ¿Eu amo a França, um país que é fruto da mistura de raças. Da eleição, eu só quero que meu país seja generoso para todos, para os que nasceram aqui ou para os que o adotaram¿, disse ao Estado o imigrante, há 50 anos em Paris.

Sem direito a voto, restou ao também argelino Mohamed Khalifa, de 42 anos, há 10 na capital, torcer pela vitória da socialista. Desempregado, filho de um argelino que combateu pela França contra a dominação nazista na 2ª Guerra Mundial, Khalifa se mostrou magoado com a campanha da direita contra a imigração.

¿Ségolène está do lado dos pobres, Sarkozy do lado de George W. Bush e de Tony Blair¿, esbravejou, referindo-se à simpatia confessa do candidato da direita pelos Estados Unidos. ¿Sarkozy detesta os imigrantes, os árabes e os negros. É um homem perigoso.¿

Com a condição de que sua identidade fosse preservada, uma vendedora ambulante de 58 anos revelou sua opção, avessa aos socialistas: ¿Votei na direita. Sarkozy tem 30 anos de experiência política, enquanto Ségolène não tem nenhuma. Mas não sei o que esperar como resultado. Os jovens de periferias são manipuláveis, e mesmo os que não votam podem se revoltar.¿

De acordo com o Ministério do Interior, as eleições transcorreram em absoluta normalidade em todo o país. Nas ruas, não havia muita mobilização de militantes.