Título: Atirador mata 32 estudantes, fere 29 e se suicida em universidade nos EUA
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2007, Internacional, p. A10

Um atirador matou ontem pelo menos 32 pessoas, feriu 29 e aparentemente se suicidou na universidade Virginia Tech, na cidade de Blacksburg. Foi o pior massacre dos últimos 80 anos em uma instituição de ensino americana. O assassino foi descrito por testemunhas como um asiático com cerca de 20 anos, 1,80m, vestindo boné e jaqueta de couro preta. Ele entrou no quarto andar do alojamento estudantil, que abriga 865 pessoas, por volta das 7 horas locais (8 horas de Brasília), matou um estudante, uma estudante e fugiu.

Duas horas depois, o atirador reapareceu no outro extremo da universidade. Ele invadiu o edifício Norris Hall, da Faculdade de Engenharia, trancou com correntes as portas do prédio, pelo lado de dentro, para ninguém fugir. Em seguida, de acordo com testemunhas, invadiu uma sala de aula, atirou no professor e abriu fogo contra os alunos, em silêncio, após enfileirá-los contra a parede. Depois, tentou entrar em outra sala, atirando na porta. Muitos alunos se jogaram pela janela para escapar dos tiros. No total, mais 30 pessoas foram mortas. Segundo a polícia, o assassino teria se matado.

O atirador usou duas pistolas (uma de 22mm e outra de 9mm) e vários cartuchos de bala. Segundo a estudante Erin Sheehan, uma das quatro sobreviventes de sua aula de alemão que tinha 25 estudantes (ela escapou fingindo-se de morta), o matador vestia um colete à prova de balas.

Até a noite de ontem, a identidade do assassino ainda não havia sido divulgada, mas de acordo com o chefe da polícia do câmpus, Wendell Flinchum,ele não era estudante. Segundo o jornal Chicago Sun Times, o atirador seria um chinês de 24 anos que entrou nos EUA em 7 de agosto, em um vôo da United Airlines vindo de Xangai, e estaria no país com visto de estudante. Três ameaças de bomba recebidas pela universidade, na semana passada, teriam sido feitas pelo mesmo homem como tentativa de testar a segurança do local.

No câmpus, circulavam rumores de que o atirador estava discutindo no alojamento com a namorada que o teria traído quando outro estudante apareceu para tentar conter a briga. Após atirar contra os dois, ele teria seguido para o prédio da engenharia atrás do ¿amante¿ da namorada. À noite, a polícia identificou o primeiro estudante morto no dormitório: Ryan Clark, aluno de biologia e inglês.

Alguns alunos criticaram o fato de a diretoria da universidade não ter feito nenhum pronunciamento público sobre o primeiro ataque após ele ter sido denunciado à polícia local em uma ligação telefônica. Os alunos receberam apenas um e-mail duas horas após as primeiras mortes. A essa altura, porém, cerca de 11 mil estudantes já se encaminhavam para as aulas. ¿Foi ridículo. Enquanto eles enviavam e-mails, mais de 20 pessoas morriam¿, afirmou o estudante Jason Piatt à rede de televisão americana CNN.

CRIME PASSIONAL

O diretor da universidade, Charles Steger, se defendeu explicando que pensou que os assassinatos nos dormitórios se tratassem de um crime passional e o atirador já teria fugido do câmpus. ¿Não tínhamos razão para suspeitar que qualquer outro incidente poderia ocorrer¿, afirmou. O governador da Virgínia, Tim Kaine, decretou o estado de emergência em Virgínia.

A matança consternou Blacksburg, uma pacata cidade universitária de 40 mil habitantes, a 390 km de Washington D.C.. A universidade Virginia Tech tem mais de 25 mil estudantes (8% deles estrangeiros, incluindo muitos brasileiros) e fica em um campus com mais de 10,5 quilômetros quadrados. Fundada em 1872, a Virginia Tech é famosa por seu curso de engenharia e por seu time de futebol americano, o Hokies.

ERROS MORTAIS

Ameaças: Na última semana, a universidade recebeu ameaças de bombas sem que tivesse adotado medidas adicionais de segurança, de acordo com os estudantes

E-mails: Após o primeiro tiroteio, a direção não suspendeu as aulas e enviou apenas e-mails para alertar os universitários

Demora: No intervalo de duas horas entre os dois ataques, o atirador aparentemente circulou livremente pelo câmpus

DÚVIDAS

Suicídio: Até a noite de ontem, as autoridades ainda não sabiam informar com segurança se o atirador tinha se suicidado ou sido morto na ação policial

Número de atiradores: Embora a maior parte das versões indicasse a existência de um único atirador, a polícia local não descartava a hipótese de um segundo autor

Identidade: O autor dos disparos não tinha sido identificado oficialmente várias horas após o ataque

PIORES ATAQUES

18/5/1927

Tragédia esquecida

Conhecido como o mais mortífero assassinato em massa numa escola dos EUA, a tragédia da Escola Bath, no Michigan, deixou 45 mortes - na maioria, alunos de segunda a sexta séries. As explosões com dinamite realizadas por Andrew Kehoe, um membro da direção escolar, também deixaram 58 feridos. Antes do ataque, Kehoe matou a mulher

20/4/1999

Tiros em Columbine

Os estudantes Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17 anos, mataram com disparos de fuzil, pistolas e metralhadoras 12 alunos e 1 professor no colégio Columbine, no Colorado. Depois da chacina, Harris e Klebold cometeram suicídio. O massacre foi retratado no documentário `Tiros em Columbine¿, de Michael Moore.

21/3/2005

Indígenas em choque

Com três pistolas, o estudante Jeffrey Weise matou 7 pessoas e deixou outros 15 feridos no Colégio Red Lake, em uma reserva indígena do Estado do Minnesota. Antes do ataque no colégio, Weise matou o avô e a esposa dele. Weise, que admirava Adolf Hitler, cometeu suicídio depois que a polícia o cercou dentro da escola

2/10/2006

Amishes sob fogo

O americano Charles Roberts matou a tiros três alunas e uma funcionária numa escola de uma comunidade rural amish da Pensilvânia. O ataque chocou os amishes, protestantes que se caracterizam por renunciar ao uso de máquinas e aparelhos modernos. Depois do ataque, que também deixou sete feridos, Roberts suicidou-se.