Título: Apoio a Correa chega a 81,5%
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2007, Internacional, p. A12

Com 94,1% das urnas apuradas, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) do Equador anunciava, na noite de ontem, que 81,59% dos eleitores equatorianos votaram a favor da instalação de uma Assembléia Constituinte no país no domingo. Apenas 12,57% votaram contra e os votos brancos e nulos somaram 5,8%. O resultado é uma grande vitória política para o presidente esquerdista Rafael Correa, que fez da Constituinte uma promessa de campanha. Mais de 5 milhões de equatorianos deram seu apoio ao projeto.

Vencida a etapa da consulta popular, Correa parte para ¿a batalha¿ de tentar dominar a futura Constituinte (de 130 membros), para implementar o seu projeto de país. A nova Constituição ficará pronta em meados de 2008 e terá de ser aprovada pela maioria da população em outro referendo. Segundo analistas, é prematuro afirmar que a popularidade do presidente - de mais de 70% - se traduzirá numa maioria do seu partido, a Aliança País, na Assembléia. Por outro lado, como explica o cientista político André Bonilla, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), em Quito, é a primeira vez em décadas que estão reunidas condições tão propícias na política equatoriana para que um presidente controle a elaboração de uma nova Carta.

¿Com esta popularidade, talvez ele consiga reverter a fragmentação política característica do Equador¿, disse Bonilla. Ele prevê dois cenários. No primeiro, mais difícil, a Aliança País consegue a maioria da Constituinte e, como as decisões serão aprovadas por maioria simples, Correa pode reinventar o arcabouço institucional do país. No segundo, mais provável, a maioria é alcançada com uma aliança com outras agremiações de esquerda, centro-esquerda e indígenas. Nesse caso, Correa teria de negociar suas propostas, mas ainda teria uma situação confortável.

Outro fator que pode ajudar o presidente é que as regras da eleição para Constituinte serão diferentes das eleições tradicionais. O financiamento passa de privado a público e será mais fácil para qualquer cidadão se candidatar. As mudanças tendem a enfraquecer o domínio dos partidos tradicionais de direita e centro-direita, os grandes adversários de Correa.

Alguns analistas são mais céticos em relação ao poder do presidente. Em entrevista ao jornal El Comercio, o cientista político Jorge León Trujillo, da Universidade de Colúmbia, observou que, no momento em que a Assembléia estiver decidindo temas concretos, que mexem com diferentes interesses, a coesão em torno do presidente pode enfraquecer.

A oposição, por sua vez, também se prepara para as eleições da Constituinte. ¿Temos de ir à Assembléia para defender o modelo de livre mercado e as liberdades públicas porque não queremos um governo totalitário e autocrático que destrua o Equador e aumente a pobreza¿, disse Gloria Gallardo, deputada de oposição destituída recentemente pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), após ser acusada de tentar obstruir o referendo de domingo.

RESULTADO PARCIAL

81,59% votaram `sim¿ à Assembléia Constituinte, de acordo com o boletim de apuração oficial divulgado ontem, com 94,1% das urnas contadas

12,57% dos eleitores votaram pelo `não¿.