Título: Advogado centralizava distribuição de propinas
Autor: Auler, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2007, Metrópole, p. C3
O escritório do advogado Jaime Garcia Dias, um dos 25 presos pela Operação Hurricane, era o centro do esquema de corrupção em torno da exploração dos caça-níqueis, segundo a Polícia Federal. Ele recebia o dinheiro de fabricantes de máquinas, donos de bingos e dos bicheiros, formando a caixinha usada para corromper agentes públicos, em troca de favores que ajudavam a manter o jogo.
A PF descobriu diversas negociações envolvendo o advogado Dias e funcionários públicos, principalmente delegados e agentes federais. Alguns deles não estão entre os presos durante a operação. Segundo participantes da investigação, novos processos serão abertos e novas prisões podem ser pedidas.
Há ainda a possibilidade de que nem todos os 25 presos respondam ao processo no Supremo Tribunal Federal (STF), ficando só envolvidos com desembargadores e Virgílio Medina, irmão do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Paulo Medina. Bicheiros, policiais e advogados voltariam a responder ao processo no Rio.
A Hurricane começou com a investigação de um pedido de propina por delegados da PF a dois advogados que tentavam resolver o problema de um cliente. O caso foi levado à Procuradoria da República. O esquema envolvendo os caça-níqueis surgiu com Dias, que apareceu nas escutas negociando com um policial o arquivamento de um inquérito. A partir desse contato, Dias começou a ser 'monitorado'. Foi quando surgiram outros delegados, inclusive Carlos Pereira, chefe da delegacia federal em Niterói, que também está preso. As conversas sob suspeita ocorriam em um celular de uso próprio do delegado, mas em nome de outra pessoa. No telefone pessoal, ele não fazia nenhum negócio. Falava dos trabalhos que realizava, sempre se vangloriando de ser bom policial.
O advogado Dias, que não tem o hábito de aparecer nos processos, funcionando apenas como lobista, ficou encarregado de tentar a liberação das máquinas no Tribunal Regional Federal (TRF). Trabalhou junto com o advogado Sérgio Luzio, que se apresentava sempre como irmão do juiz federal Marcelo Luzio. Enquanto Luzio aparecia formalmente nos pedidos protocolados na Justiça, Dias agia nos bastidores. Foi ele quem conversou com o genro do desembargador José Eduardo Carreira Alvim, o advogado Silvério Néry Cabral Júnior, também preso sexta-feira - sobre a liminar que os bingos esperavam conseguir no TRF e havia sido negada pelo desembargador Sérgio Feltrin.
Nas conversas por telefone gravadas pela PF, Silvério Júnior pediu uma Mercedes para intermediar a negociação com o sogro. A polícia ouviu o desembargador dizendo que 'a minha parte quero em dinheiro'. Sogro e genro são donos de um grupo de salas em um prédio da Avenida Rio Branco.