Título: Mantega diz a agências que País está disposto a fazer reformas
Autor: Fernandes, Nalu
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/04/2007, Economia, p. B6

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, durante visita à agência de classificação de risco Moody's, que estava mostrando a 'predisposição do governo com a continuação da implementação das reformas'. Para as agências, essa questão é fundamental para reduzir a dívida do Brasil. Hoje o ministro vai à Standard & Poor's.

Aos analistas da Moody's, ele disse que sugeriu a formação de um grupo de estudo, por meio de seminários, para a ponderação de outras variáveis da economia do País para o cálculo do rating (nota), que refletiriam a diversidade da estrutura produtiva do Brasil. Membros do Tesouro poderiam elaborar os seminários, disse Mantega.

O ministro classificou a visita como 'boa', mas acredita que o Brasil 'já está tendo upgrade (elevação) da classificação por analistas e participantes dos mercados', uma vez que a trajetória do risco País tem sido declinante.

Na avaliação de Mantega, 'falta um pouco de criatividade para olhar outros fatores'. 'As agências estão presas a padrões mais antigos de avaliação do País.' 'Eu perguntei a eles por que o Brasil é classificado como outros países mais frágeis', informou o ministro.

Ele observou que foram apresentados pela Moody's dados relativos às dívidas externa e interna brasileiras. 'Em externa, está muito bom, mas, no lado fiscal, eles ponderam que caminhamos menos', afirmou. Na relação dívida bruta/Produto Interno Bruto (PIB), Mantega informou que foi apresentado pela agência um número que bate em 65%. Para a relação dívida líquida/PIB, o numero é de 45%. 'Isso é um problema, ficam muito presos à questão fiscal', reclamou.

O ministro reconheceu que há um componente político nas visitas às agências, pois teve por objetivo mostrar 'que o governo tem disposição e o desejo de dar continuidade às reformas e de manter a responsabilidade fiscal'. Durante a palestra para investidores, o ministro reconheceu desafios à economia brasileira e enfatizou a necessidade de reformas para que o País cresça mais. Na platéia, estava a diretora para ratings soberanos da agência Standard & Poors, Lisa Schineller, que participará da reunião com o ministro hoje.

REAL MAIS FRACO

Mantega disse também que a valorização do real deverá se abrandar à frente. Segundo ele, o aumento das importações e a compra de reservas pelo Banco Central (BC) devem colaborar para que seja reduzida a pressão sobre a moeda brasileira. Contudo, ele reiterou que 'o governo não está disposto a usar artificialismos'. 'Mas torço para que se valorize o menos possível', completou.

O ministro se recusou a estimar em quanto o câmbio deve se abrandar. 'Como ministro não faço projeções.' Mantega descartou medidas de controle artificial do câmbio. Artificialismos, disse, 'têm resultado de curta duração e depois desmoronam'.

Para Mantega, o câmbio está forte com uma economia forte. 'Não dá para ter câmbio fraco com economia forte.' Ele reiterou que a trajetória do País em relação ao investment grade também adiciona pressão sobre o real.

DESONERAÇÃO

As medidas de alívio tributário preparadas pelo governo para setores mais sensíveis à valorização do real não devem afetar o nível da arrecadação, segundo Mantega. O ministro reiterou que as medidas estudadas pelo governo devem favorecer, principalmente, exportadores que fazem uso intensivo de mão-de-obra, atuando como uma compensação pela perda de competitividade causada pela valorização do câmbio.

A desoneração de impostos, disse, deve compensar a valorização da moeda ao reduzir custos para setores como têxtil e de calçados. 'Não dá para baixar contribuição para o INSS, por exemplo', ressalvou. 'Vamos fazer redução da folha de pagamentos, mas não deve ter perda na arrecadação. A desoneração não levará ao desequilíbrio das contas públicas.' O ministro afirmou que o 'País precisa fazer a reforma tributária, pois a estrutura tributária não é boa nem eficiente', disse ele.