Título: Após invasão, sem-terra 'administram' fazenda com 2,1 mil cabeças de gado
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2007, Nacional, p. A10

Com 1,7 mil hectares e 2,1 mil cabeças de gado, a Fazenda Lagoão, em Itapura, no interior de São Paulo, foi invadida duas vezes em três dias e passou a ser administrada desde a manhã de ontem pelo Movimento dos Sem-Terra (MST). Os líderes do MST proibiram o administrador e os funcionários da propriedade de realizar seus trabalhos e assumiram as tarefas.

A fazenda foi invadida na sexta-feira por 102 famílias. Ontem, outras 200 famílias aderiram à ocupação. Os sem-terra estão acomodados em duas casas, num grande barracão, numa garagem de implementos agrícolas e em barracas montadas na área da sede da fazenda.

Na manhã de ontem, eles usaram ferramentas agrícolas e dois tratores trazidos pelo movimento para destruir três hectares de plantação de capim colonião que, a partir de maio, serviria de pasto para o gado na seca.

Segundo Reneé Parrem, um ex-padre sueco e líder da invasão, ¿o capim serve apenas para latifundiários criarem gado e agora vai dar lugar a alimentos¿. ¿Recebemos avisos para só sair para trabalhar acompanhado deles (sem-terra), que agora comandam as atividades que devem ser feitas¿, disse ontem Odair de Assis Teixeira, administrador da fazenda.

Pela manhã, Teixeira e outros dois funcionários tinham recebido aviso dos sem-terra para ficar dentro de casa, mas depois foram liberados para trabalhar, desde que acompanhados pelo MST. Os três podem deixar o local se quiserem, mas receberam ordens dos patrões para permanecerem lá. O MST também colocou seguranças que interditam e autorizam entrada e saída de pessoas da sede.

A propriedade pertence ao grupo Piperone Participações, ligado a italianos, de São Paulo. Segundo Teixeira, os donos entraram ontem com pedido de reintegração de posse.

A área é uma das 18 do Estado cujas desapropriações são discutidas na Justiça desde 2004. Em agosto daquele ano, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) pagou R$ 8,06 milhões pela desapropriação, mas os fazendeiros recorreram e o processo parou no Tribunal Regional Federal.

Os sem-terra prometem resistir ¿até a morte¿. ¿Essas famílias estão acampadas na frente desta propriedade desde 2002. Agora elas não vão sair daqui enquanto a Justiça não julgar o processo e definir se a fazenda será loteada ou não¿, explicou Lourival Plácido de Paula, coordenador do MST.