Título: Socialista atrai voto do centro, mas Sarkozy é líder
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2007, Internacional, p. A11
O dia seguinte às eleições presidenciais na França, que apontaram o ex-ministro do Interior Nicolas Sarkozy e a deputada Ségolène Royal como finalistas para o segundo turno, no dia 6, indica uma disputa em aberto e um quadro político mais complexo do que previam as primeiras pesquisas de opinião.
Segundo sondagens divulgadas ontem, a socialista está captando mais votos do que o conservador entre os eleitores que haviam preferido candidatos derrotados no domingo. Ségolène tem boa aprovação no centro e tem um desempenho melhor na extrema esquerda do que Sarkozy na extrema direita. Mas, até o momento, o ex-ministro seria o líder.
Entre os 6,75 milhões de eleitores que haviam escolhido o centrista François Bayrou, 45% estariam decididos a votar na socialista. Outros 34% estariam determinados a optar por Sarkozy. Cerca de 10% se mostram indecisos, percentual semelhante ao de abstenções. A vantagem da socialista é mais forte entre os eleitores que simpatizam com Bayrou - 29% pró-Ségolène e 20% pró-Sarkozy. Entre os que votaram no centrista por serem simpatizantes da União pela Democracia Francesa (UDF), a situação se inverte: 27% preferem Sarkozy e 23%, Ségolène.
Se confirmada a tendência indicada pelo instituto BVA - com dados coletados ontem -, a diferença daria à candidata socialista cerca de 600 mil novos votos a mais do que o conservador no segundo turno.
Ségolène também desfrutaria de uma maior capacidade de atrair eleitores da extrema esquerda do que Sarkozy da extrema direita, segundo o levantamento. Dos franceses que escolheram entre os cinco candidatos comunistas e a postulante do Partido Verde, 65% estariam decididos a continuar a apoiar a esquerda. No lado oposto, 60% dos eleitores de Jean-Marie Le Pen e de Philippe de Villiers, ambos da extrema direita, disseram que votarão em Sarkozy.
Mas a diferença a favor da socialista ainda não é suficiente para desfazer a vantagem de 1,9 milhão de votos que o ex-ministro obteve sobre a deputada no domingo. À noite, após a divulgação dos resultados, novas sondagens já indicavam a liderança de Sarkozy com 54% da preferência dos franceses, diante de 46% de Ségolène. A novidade dos números da segunda-feira é restabelecer a paridade de forças e tornar a eleição imprevisível, indicaram analistas consultados pelo Estado.
'Por enquanto, o quadro ainda parece muito favorável a Sarkozy. Mas restam 15 dias de campanha e há um tradicional debate na TV, marcado para 2 de maio, que costuma ser determinante na França', alerta Emilie Bono, coordenadora de estudos políticos da BVA.
Uma das explicações para a migração de votos de Bayrou estaria na posição assumida por Sarkozy nas três últimas semanas de campanha, quando o ex-ministro fez proposições que avançaram sobre o eleitorado ultraconservador de Le Pen, da Frente Nacional. Procurando se firmar como o único líder da direita, Sarkozy chegou a dizer às vésperas da eleição que Bayrou era 'um candidato de esquerda'.
Além do BVA, institutos como o CSA divulgaram estudos menos completos, mas com resultados semelhantes. O único a destoar foi o IFOP, que apontou a tendência contrária entre os eleitores do centro (54% migrariam para Sarkozy e 46% para Ségolène). As estatísticas, porém, foram menosprezadas pela imprensa francesa por não incluírem indecisos e abstenções.
Jérome Fourquet, analista do instituto, reconhece que a classificação para o segundo turno pode alterar a posição dos franceses sobre a socialista: 'A qualificação de Ségolène por si só pode alterar a percepção do eleitorado, que pode passar a julgá-la mais forte, mais capaz e mais apta para unir.'