Título: Para vencer, Ségolène precisa de 60% dos votos do centrista Bayrou
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2007, Internacional, p. A12
Quase 4 milhões de votos de eleitores que escolheram o centro no primeiro turno da eleição presidencial francesa separam a deputada Ségolène Royal, candidata do Partido Socialista (PS, esquerda), de seu rival conservador, o ex-ministro do Interior Nicolas Sarkozy, da União por um Movimento Popular (UMP, direita). O estudo, realizado pelo instituto de pesquisas Ipsos, indica que, para vencer Sarkozy, a deputada precisará entre 60% e 66% dos votos do ex-adversário François Bayrou, da União pela Democracia Francesa (UDF, centro).
A estimativa tem como base a tendência dos eleitores cujos candidatos foram eliminados no domingo. Projeções do instituto consideram que o peso dos votos do Partido Verde e da extrema esquerda - que migrariam para Ségolène - é equivalente aos da extrema direita, que iriam para Sarkozy. Em outras palavras: caberá aos 6,75 milhões de eleitores de Bayrou decidir quem será o novo presidente da França no dia 6.
'Não há mais dúvida de que a eleição será decidida pelo centro. O problema do Partido Socialista é que eles não podem se contentar com 2 ou 3 pontos (que teriam a mais entre os votos de Bayrou) de vantagem sobre a UMP', explicou ao Estado o argentino Frederico Vacas, diretor de estudos do Ipsos.
Entre esses eleitores, Ségolène tem 38% das preferências, enquanto 35% optam por Sarkozy. Outros 25% se pronunciaram pela abstenção ou não informaram preferência. A deputada também evolui melhor nessa fatia do eleitorado desde o domingo, tendo progredido 6 pontos, enquanto Sarkozy perdeu 1 ponto. O levantamento da Ipsos também confirmou o diagnóstico do Instituto BVA, que na segunda-feira apontou a vantagem dos socialistas entre eleitores do centro.
Mesmo com o progresso, Ségolène ainda não tem votos suficientes para vencer: alcança até o momento 2,56 milhões de ex-eleitores centristas. Falta pelo menos 1,3 milhão. A última pesquisa do Ipsos aponta Sarkozy na frente, com 54% da preferência, contra 46% da adversária. Outro instituto, o TNS-Sofres, indicou empate técnico, com ligeira vantagem para Sarkozy: 51% a 49%.
Sarkozy seguiu o gesto surpreendente de Ségolène, na segunda-feira, e apelou ontem ao entendimento com o candidato da UDF. Procurados ontem, nenhum dos porta-vozes de campanha da UMP se manifestaram sobre o pedido sigiloso de apoio feito por Sarkozy a Bayrou, e revelado pelo jornal Le Monde. À tarde, Geraldine Martiano-Lehideux, porta-voz da UDF, tentou desviar as atenções, mas acabou confirmando os contatos de socialistas e conservadores ao Estado. 'Ségolène telefonou ao celular de Bayrou e deixou mensagem na secretária eletrônica', confirmou, para a seguir completar, mediante insistência: 'Sim, Sarkozy também ligou e deixou recado.'
Mais significativa, no entanto, foi a resposta de Bayrou - ou a falta de resposta. Nenhuma das duas ligações, segundo a porta-voz, foi respondida pelo centrista. Sua primeira manifestação pública sobre apoio no segundo turno será feita apenas hoje à tarde. Geraldine, deixou transparecer a inclinação de Bayrou e fez questão de afirmar sua escolha no segundo turno: 'Eu não votarei Ségolène. E também não votarei Sarkozy.'
A única hipótese de Bayrou deixar a neutralidade hoje é a pressão que deputados da UDF exercem sobre ele para que apóie Sarkozy. Os políticos temem não alcançar a reeleição à Assembléia Nacional e ao Senado caso não contem com auxílio da UMP, uma máquina partidária de grande porte em todo o país, em suas regiões.