Título: Investimento dispara e soma US$ 6,57 bi no ano
Autor: Graner, Fabio e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2007, Economia, p. B1

Surpreendendo os analistas e o próprio Banco Central, o fluxo de investimentos estrangeiros diretos (IED) no Brasil disparou em março e ficou em US$ 2,778 bilhões, segundo informou ontem o BC. O valor, recorde para meses de março desde o início da série, em 1947, foi duas vezes superior ao verificado em fevereiro e 70,5% maior do que o de março de 2006. O BC esperava que os investimentos ficassem em torno de US$ 1,2 bilhão, enquanto o mercado, segundo a Agência Estado, esperava no máximo US$ 1,5 bilhão.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC (Depec), Altamir Lopes, o resultado ficou muito acima do esperado por causa de duas grandes operações que ocorreram no final de março, uma no setor químico e outra no setor de intermediação financeira. Ele não informou qual o volume dessas operações nem quais empresas participaram delas.

No primeiro caso, segundo fontes,a operação teria sido realizada pela multinacional Bunge, numa troca de ações com outra unidade da própria empresa no Brasil, resultado que tem saldo zero nas contas externas. No setor financeiro, o investimento seria decorrente da troca de ações entre o Banco Itaú e o americano Bank of America.

Nos três primeiros meses do ano, o fluxo de IED ficou em US$ 6,578 bilhões - 2,59% do Produto Interno Bruto (PIB) do período, também o melhor resultado da série do BC, excluindo-se os anos em que entraram no País recursos para privatizações. No primeiro trimestre de 2006, o IED somou US$ 3,957 bilhões, o equivalente a 1,56% do PIB daquele período. Em 12 meses, o saldo de investimentos no Brasil atingiu US$ 21,402 bilhões (1,96% do PIB).

Lopes afirmou que o crescimento dos investimentos no Brasil reflete o aumento da confiança na economia, conseqüência da estabilidade econômica, da redução do risco país e das perspectivas de crescimento econômico. 'Esse cenário atrai o investidor estrangeiro.' Ele acrescentou que novos nichos econômicos, como o setor de álcool combustível, também estão atraindo investidores.

O economista da PUC-SP, especialista em setor externo, Antônio Corrêa de Lacerda, concorda que o cenário de estabilidade, com perspectivas de crescimento, está favorecendo os investimentos diretos no Brasil. Mas pondera que os investimentos ainda estão pouco voltados a setores mais dinâmicos que criam mais empregos e impulsionam o crescimento, como semicondutores e bens de capital. Segundo ele, fatores como carga tributária elevada e câmbio valorizado atrapalham um aumento mais forte dos investimentos nessa área.

Além do investimento estrangeiro direto, o resultado das transações correntes do balanço de pagamentos também veio, em março, acima do que o BC esperava. Essa conta, que registra as operações de comércio, serviços e rendas do Brasil com o exterior, apresentou superávit de US$ 817 milhões no mês passado, ante estimativa de apenas US$ 200 milhões.

Segundo Lopes, o bom desempenho ocorreu porque o superávit comercial ficou maior do que o previsto e porque aumentaram as receitas com juros na aplicação das reservas internacionais, que têm crescido com as compras de dólares pelo BC. Em março, as receitas com juros somaram US$ 595 milhões, ante US$ 399 milhões em igual mês de 2006. Isso reduziu o resultado líquido negativo da conta total de juros, de US$ 882 milhões em março de 2006 para US$ 589 milhões em março deste ano.

No primeiro trimestre, o superávit em conta corrente ficou em US$ 1,694 bilhão (0,67% do PIB do período), ante US$ 1,574 bilhão (0,62% do PIB) nos três primeiros meses de 2006. Nos últimos 12 meses até março, a conta corrente tem resultado positivo de US$ 13,396 bilhões, ou 1,23% do PIB.