Título: Em 3 meses, País compra US$ 22 bi. E dólar não sobe
Autor: Graner, Fabio e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2007, Economia, p. B1

Mostrando que continua agressivo na tentativa de conter a valorização do real em relação ao dólar, o Banco Central comprou em março US$ 8,3 bilhões no mercado de câmbio e nos três primeiros meses do ano já adquiriu o valor recorde de US$ 21,9 bilhões. O volume comprado no primeiro trimestre é maior do que os US$ 20,5 bilhões que o Brasil tinha em suas reservas internacionais - excluindo os recursos devidos ao Fundo Monetário Internacional (FMI) - no fim de 2003, primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O volume de compras do mês passado foi mais de duas vezes superior aos US$ 3,1 bilhões adquiridos pelo BC em março de 2006, mas inferior aos US$ 8,8 bilhões comprados em fevereiro deste ano. No acumulado do ano, as compras do BC são quase três vezes superiores aos US$ 7,9 bilhões adquiridos no primeiro trimestre do ano passado.

E o ritmo continua intenso. Segundo fontes do mercado financeiro, até o último dia 20 o Banco Central já havia adquirido US$ 7,1 bilhões no mercado de câmbio. O valor foi calculado com base na variação das chamadas posições vendidas dos bancos em câmbio. O BC não informa o valor mais recente de suas operações.

Para a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, a agressividade do BC é uma resposta ao forte fluxo de divisas para o Brasil. Esse fluxo, majoritariamente engrossado pelos bons resultados da balança comercial, tem pressionado a cotação da moeda americana, perto de cair abaixo de R$ 2.

Como as compras à vista não tem conseguido reverter a queda do dólar, o BC vem procurando diversificar os instrumentos de atuação no mercado e agir de forma mais imprevisível. Ontem deu mais um passo nessa direção ao anunciar às instituições que operam em seu nome no mercado (as 'dealers') que não avisará mais por telefone quando for operar no mercado de swap. O swap é uma operação que equivale a uma compra de dólares, mas sem dinheiro à vista e com maior risco. Esses negócios agora serão anunciados pelo Sisbacen, o sistema eletrônico de informações do BC.

Segundo o Banco Central, de janeiro a março o fluxo líquido de dólares para o Brasil foi de US$ 17,394 bilhões. Em abril, até o último dia 20, o fluxo positivo estava em US$ 7,5 bilhões, valor maior do que o de todo o mês de março (US$ 6,647 bilhões). Somente as operações ligadas à balança comercial geraram um fluxo positivo no primeiro trimestre de US$ 20,638 bilhões. Em abril, o ingresso de divisas relativo a essas operações já soma US$ 4,488 bilhões.

De acordo com Alessandra Ribeiro, diante da perspectiva de continuidade de valorização do real ante o dólar, os exportadores estão antecipando o ingresso de recursos pelo mercado para garantir uma cotação mais vantajosa. 'A defasagem entre os embarques efetivos e o câmbio contratado no mercado, no acumulado dos últimos 12 meses, ficou em US$ 14 bilhões', afirmou, explicando que, na prática, o movimento acaba antecipando a valorização que os exportadores tentam evitar. 'Esse fluxo maior de moeda está levando a uma postura mais agressiva do BC no mercado.'

Também pressionam a moeda americana os juros altos, os investimentos diretos e as compras de ações na Bolsa de Valores de São Paulo.