Título: Contas externas caminham bem
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2007, Economia, p. B2

O balanço de pagamentos de março apresentou saldo positivo de US$ 8,529 bilhões, resultado 0,8% menor que o do mês anterior, apesar do aumento de 13,8% nas transações correntes, mas em razão de uma queda de 14% na conta financeira.

Esse desempenho poderia dar a impressão de que as contas externas se deterioraram, o que não é o caso quando se as analisa em detalhe, lembrando que seria desejável reduzir o fluxo de entrada de divisas que obrigou o Banco Central (BC) a comprar US$ 8,3 bilhões para conter a valorização do real (US$ 21,9 bilhões no trimestre), operação custosa, embora os juros sobre as reservas devam propiciar, segundo estimativa do BC, US$ 4,52 bilhões em 2007 - um aumento de 60,5% em relação a 2006.

A taxa de rolagem dos empréstimos externos foi, em março, de 267% ante 89% em fevereiro. Os agentes econômicos se aproveitaram da valorização do real para resgatar suas dívidas e contratar novos empréstimos com risco Brasil menor.

A conta de serviços apresentou déficit de US$ 835 milhões, maior que no mês anterior, essencialmente porque, com o crescimento das importações, houve também mais despesas com transportes. No tocante às rendas, o déficit também está aumentando em razão, principalmente, das despesas com as remessas de lucros e dividendos. É interessante notar que as despesas com juros estão diminuindo, apesar de um aumento da dívida externa, pois a diminuição do risco Brasil está acarretando uma redução proporcional das taxas de juros pagas pelo País.

Houve US$ 2,8 bilhões de ingressos de investimentos líquidos, 70,5% a mais que no mesmo mês do ano anterior. Estima-se que esses investimentos continuaram aumentando em abril. A reação positiva do capital estrangeiro parece fruto da aposta de que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de fato aumentará a produção de bens e serviços.

Paralelamente, a taxa de rolagem dos empréstimos externos continua elevada (493% até ontem).

Nesse contexto, não se deve estranhar que até o último dia 20 o fluxo cambial tivesse se mostrado altamente positivo, com US$ 7,511 bilhões, sensivelmente igual ao do mês precedente. Nesse total, os fluxos financeiros representam 40,2%. Esse resultado não autoriza prever, a médio prazo, uma desvalorização da moeda nacional nem tampouco um recuo do saldo comercial.