Título: Para novo diretor do BC, juro pode cair 'muito mais'
Autor: Fernandes, Adriana e Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2007, Economia, p. B3

O novo diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Mário Torós, disse ontem que o Brasil não está condenado a ter taxas de juros elevadas 'ad eternum' e admitiu que os juros podem cair 'muito mais' nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

As palavras de otimismo, que agradaram aos analistas do mercado, foram acompanhadas da ressalva de que, nesse processo, 'é preciso ter cautela'. 'Na medida em que a política monetária vem sendo bem sucedida, ela pode ser relaxada, e isso já está acontecendo. Mas, como banqueiro central, a prudência deve ser a atitude para manter a inflação baixa', disse.

Exibindo total sintonia com o discurso do BC, Torós disse que o País passou por um período que culminou com a estabilização da economia e admitiu que, eventualmente, pode-se estar no fim de uma travessia. 'O final dessa travessia deve ser feito com tanta ou mais prudência do que em todo o percurso que percorremos até atingir a estabilidade', disse ao ser sabatinado pelos senadores na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), do Senado. A indicação de Torós foi aprovada por 24 votos a três na CAE, e por 52 votos a sete no plenário do Senado.

A trajetória da taxa de juros, segundo ele, é cadente e os juros nominais e reais (descontada a inflação) romperam um novo nível nos últimos meses. 'Entramos em uma nova seara.'

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), quis saber como ele teria votado na última reunião do Copom, se por uma queda de 0,25 ou de 0,50 ponto porcentual da Selic. O presidente da CAE, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), aproveitou a deixa e foi além: fez uma apelo para que Torós passe a integrar o grupo minoritário dos integrantes do Copom, que votaram, na última reunião, por uma redução de 0,50 ponto porcentual. Torós disse que não poderia se manifestar, porque, afinal, não participou da reunião. 'Seria pouco elegante dar uma opinião ainda como postulante do cargo de diretor', ponderou.

Na exposição inicial aos senadores, ele reafirmou a posição da diretoria do BC em relação às críticas em defesa de uma redução mais acelerada das taxas de juros para frear a valorização do real ou para acelerar o crescimento. 'A definição de alcance da política monetária, que tem a função única e exclusiva de controle da inflação, é uma conquista que deve ser cuidada e preservada', disse.

A maior contribuição que a política monetária pode dar para a aceleração do crescimento, segundo ele, é promover um ambiente de estabilidade. 'As taxas de câmbio, por sua vez, devem refletir os fundamentos econômicos.' Para Torós, o regime de câmbio flutuante é um importante amortecedor de choques, reduzindo a volatilidade do Produto Interno Bruto (PIB) e da política monetária.

Torós evitou entrar na polêmica que divide a equipe econômica entre monetaristas e desenvolvimentistas. A uma pergunta do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que quis saber qual grupo iria integrar, ele afirmou que é favorável à manutenção da inflação baixa, para que o País possa crescer e distribuir renda. 'Tucanou na resposta', brincou Mercadante. Ribeiro reagiu, afirmando que a declaração de Torós significava que a política de redução de juros continuará sendo 'de conta-gotas'.

Para outro oposicionista, senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), Mário Torós é 'a figura que faltava' ao BC, por ter um perfil operador. 'O Banco Central tem de ser conservador mesmo. Tem de dar passos seguros e fazer com justeza o que tem de ser feito' disse Virgílio.

FRASE Mário Torós Novo diretor de Política Monetária do BC

¿O final dessa travessia deve ser feito com tanta ou mais prudência do que em todo o percurso que percorremos até atingir a estabilidade¿.