Título: Corte Constitucional turca anula votação presidencial
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2007, Internacional, p. A12
A Corte Constitucional da Turquia anulou ontem a primeira rodada de votação no Parlamento para eleger o presidente do país, alegando que não houve o quórum necessário de dois terços após o boicote dos deputados de oposição. O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan respondeu pedindo uma emenda constitucional para permitir que o presidente seja eleito diretamente por um voto popular, em vez de pelo Parlamento. E disse que novas eleições parlamentares poderão ser realizadas em 24 de junho ou 1º de julho, em vez de novembro, como programado.
O objetivo seria eleger um governo com um novo mandato e resolver a crise, que levou à queda na bolsa de valores e provocou uma ameaça de intervenção do poderoso Exército, que se diz guardião do sistema secular do país. ¿Se Deus quiser, a Turquia voltará aos eixos¿, disse Erdogan à imprensa ontem à noite, referindo-se à estabilidade econômica e política dos últimos anos.
Não ficou claro se Erdogan pretendia levar adiante um novo processo de eleição presidencial no Parlamento antes de convocar eleições gerais antecipadas. Horas antes, apesar da decisão da Corte Constitucional a favor da oposição secularista, o candidato governista, o chanceler Abdullah Gul, disse que não retiraria sua candidatura. Um membro do PK informou que o Parlamento realizaria uma nova rodada de votação amanhã e outras nos dias 7, 11 e 15, se necessário. Para ser eleito, o candidato precisa obter pelo menos 367 votos na primeira e segunda rodadas de votação, mas apenas 276 na terceira e quarta rodadas. O partido governista AK, de raiz islâmica, tem 352 cadeiras.
A oposição havia boicotado a votação de sexta-feira para evitar que Gul fosse eleito presidente. Os secularistas temem que Gul e Erdogan prejudiquem a estrita separação do Estado e da religião na Turquia. Eles estão céticos com relação ao governo, apesar de seu reiterado compromisso com o regime laico, assim como com as reformas necessárias para a entrada da Turquia na União Européia.
A polícia turca deteve ontem 580 pessoas em Istambul durante confronto com esquerdistas. Eles lembravam o 30º aniversário da morte de 34 manifestantes durante um protesto no 1º de Maio.