Título: Novos desafios para o BNDES
Autor: Lacerda, Antonio Corrêa de
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2007, Economia, p. B2
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) teve historicamente um papel crucial para o desenvolvimento da economia brasileira, desde que foi criado, em 1952. Tanto no financiamento da consolidação da industrialização baseada no modelo de substituição de importações, vigente até a década de oitenta, como na infra-estrutura e no comércio exterior. Já houve, no entanto, quem enxergasse na atuação do banco um fator inibidor do desenvolvimento do mercado de capitais, ou ainda que ele se tornaria desnecessário com o surgimento de outras alternativas de financiamento no mercado. Uma análise dos dados dos últimos anos, no entanto, evidencia um equívoco nessas premissas. Nos últimos 12 meses, até março passado, por exemplo, os desembolsos do BNDES atingiram o volume recorde de R$ 55 bilhões, um crescimento de 28% em comparação ao período anterior, assim como as aprovações de operações, importante indicador de desembolsos futuros, atingiram R$ 82 bilhões, um crescimento de 49%. É interessante notar que o desempenho recorde ocorre concomitantemente a dois fatos marcantes. O primeiro é o crescimento do mercado de capitais doméstico, cujas emissões em 2006 chegaram a R$ 109 bilhões, crescendo 79% em relação ao ano anterior. O mercado de capitais ganha cada vez mais relevância. O patrimônio das empresas negociadas em bolsa já representa 75% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, indicador que supera outros países emergentes, como China e México, e é equivalente ao observado na Índia e Rússia. Outro indicador interessante foram as emissões de empresas brasileiras (ADRs) na Bolsa de Nova York , que atingiram US$ 221 bilhões, volume praticamente equivalente ao dobro do ano anterior. A análise desses dados revela que a atuação do BNDES não é inibidora de outras formas de capitalização, pelo contrário exerce papel fomentador e complementar. Há demandas específicas para cada segmento. No governo Lula, o banco retomou sua função clássica de desenvolvimento. Nesse sentido, há uma continuidade nas gestões de Carlos Lessa, Guido Mantega e Demian Fiocca. Agora, o recém-empossado Luciano Coutinho deve dar continuidade às gestões anteriores e fazer uso da sua vasta experiência na área para impulsionar as ações e vencer os novos desafios que se apresentam. Do ponto de vista operacional, o maior desafio é dar mais agilidade à análise e liberação de recursos. No âmbito da infra-estrutura, é preciso viabilizar a realização dos projetos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Também é necessário ampliar o acesso, direta ou indiretamente, das pequenas e médias empresas aos recursos de empréstimos e fomento às exportações. Do ponto de vista da inserção externa, há um amplo espaço para fomentar a internacionalização das empresas brasileiras e influenciar as estratégias das filiais das empresas transnacionais instaladas no Brasil. No que tange aos investimentos diretos estrangeiros, os desafios se dão em duas principais frentes. A primeira, e mais factível, é a negociação com a base de empresas transnacionais já presentes no mercado brasileiro. Essas empresas representam a parcela significativa de cerca de 45% do faturamento das 500 maiores empresas do País e respondem por mais de 40% das exportações de manufaturados. A segunda frente de ação está em criar as condições para atrair investimentos de empresas globais em segmentos nos quais há evidente carência no mercado brasileiro, como no caso dos semicondutores, que apresentam déficit comercial anual da ordem de US$ 6 bilhões, por exemplo. Nesse sentido, nas duas frentes citadas, o BNDES, pela qualidade dos seus quadros técnicos e conhecimento das cadeias produtivas, pode exercer um papel de interlocutor privilegiado com a alta direção dessas empresas. Pode ainda contribuir para a formulação e implementação de políticas de desenvolvimento, especialmente nos campos da política industrial e científico-tecnológica, como parte integrante do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, e ainda articular as ações conjuntas com o Ministério da Ciência e Tecnologia.