Título: Commodity atrai capital para o País
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2007, Economia, p. B3

Os preços elevados das commodities (produtos que têm cotação definida em bolsas de mercadorias) internacionais não estão só contribuindo para criar saldos recordes na balança comercial brasileira, apesar da valorização do real. Estão ajudando o Brasil a receber mais investimentos estrangeiros diretos (IED), recursos do exterior aplicados no setor produtivo.

De acordo com dados do Banco Central (BC), o setor de extração de minerais metálicos viveu no primeiro trimestre deste ano uma nova rodada de investimentos significativos vindos do exterior, recebendo 4,9% dos US$ 6,6 bilhões que ingressaram no Brasil como IED.

O volume de US$ 322 milhões investido na indústria extrativa no primeiro trimestre foi apenas US$ 71 milhões menor que o verificado em todo o ano de 2006, quando a participação do segmento no total de IED foi de apenas 1,8%. Em comparação com os três primeiros meses do ano passado, quando entraram no País apenas US$ 31 milhões para o setor, os investimentos foram dez vezes superiores.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, explicou ao Estado que o ambiente de crescimento da economia mundial eleva fortemente a demanda por metais, aumentando os preços das commodities metálicas, como minério de ferro e ouro. 'A perspectiva de crescimento econômico puxa muito a demanda por metais e tem levado ao aumento do IED na indústria extrativa mineral no Brasil', disse.

Na visão do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), desde o final do ano passado o investidor estrangeiro tem mostrado maior apetite por investir no Brasil e boa parte deles realizando projetos grandes (operações superiores a US$ 100 milhões).

'A economia brasileira, portanto, está atraindo recursos estrangeiros para grandes projetos, especialmente em setores produtores de commodities de alta valorização no mercado mundial. Não é por acaso que outra característica do primeiro trimestre de 2007 tenha sido o especial dinamismo do investimento estrangeiro direto em setores como extração de minerais metálicos', diz relatório distribuído pelo Iedi.

Mas não é só o extrativismo mineral que tem atraído mais investidores estrangeiros para o Brasil e ganhado espaço na pauta de IED. A indústria de transformação, que em 2006 recebeu 38,5% dos investimentos produtivos que vieram para o Brasil, ante 30,2% em 2005, fechou o primeiro trimestre deste ano com 40,4%. O dado de 2007 está inflado por uma operação de troca de ações realizada pela multinacional Bunge com uma filial brasileira, com impacto nulo nas contas externas.

Mesmo assim, setores importantes da indústria, como o automobilístico, têm recebido mais investimentos. Segundo Altamir Lopes, esse setor voltou ao radar do estrangeiro diante do cenário de maior crescimento no País, com estabilidade e elevação da renda. Altamir destacou ainda, na indústria, os investimentos em combustíveis, sobretudo álcool, uma resposta clara ao crescimento desse mercado no Brasil e a expectativa de avanços no mundo, especialmente nos Estados Unidos.

Para o professor da PUC de São Paulo Antônio Corrêa de Lacerda, se o Brasil tivesse uma política econômica mais favorável à produção, com taxa de câmbio menos valorizada, carga tributária menor, infra-estrutura em melhor estado, ou seja, com custos menores de produção, a indústria estaria recebendo mais investimento estrangeiro direto, sobretudo em segmentos de maior valor agregado e que geram mais empregos.

Além disso, ele avalia que falta um movimento do governo para atrair esses investidores ao Brasil. 'As empresas praticamente nos descobrem, nós não temos uma estratégia articulada para atraí-las', afirmou. A contrapartida do maior direcionamento de IED para a indústria de transformação e para o extrativismo mineral neste início de ano está sendo a perda de espaço dos serviços, que receberam 50,7% dos dólares que entraram no Brasil.

No final do ano passado, o setor representou 54,5% e, em 2005, 59,7% do total. 'O setor de serviços cresceu muito no período das privatizações e imediatamente depois. Agora, está em uma fase mais de manutenção do que de novos investimentos', avaliou o chefe do Banco Central.