Título: PMDB recebe Lula hoje para cobrar fatia de poder de R$ 6 bi
Autor: Domingos, João e Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2007, Nacional, p. A7

Preocupado com as armas do PT para garantir os mais importantes cargos do segundo escalão do governo, um batalhão de quase 200 peemedebistas oferece hoje um jantar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O recado não poderia ser mais claro: lembrar que o PMDB é o maior partido da coalizão governista e, por isso, reivindicar a ampliação em qualidade e quantidade na participação em cargos-chave de ministérios e grandes estatais que administram. Algo em torno de R$ 6 bilhões.

O PMDB tem a certeza de que será atendido pelo presidente Lula - se não em tudo o que pedir, pelo menos em quase tudo. Depois de muitos anos de divisões internas, a legenda oferece agora a Lula um partido coeso. Espera em troca postos de peso em setores cruciais, como os de petróleo e infra-estrutura.

Embora esteja também pressionado pelos petistas, o presidente tem motivos para fazer a corte aberta aos peemedebistas. Seu segundo mandato está centrado no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que não sairá do papel sem a aprovação do Congresso. E o PMDB é fundamental na votação, do PAC e da prorrogação até 2011 da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e da Desvinculação das Receitas da União (DRU).

O plano do PMDB é exibir a força partidária, com a presença, no jantar, do maior número possível dos 92 deputados, 29 senadores, 5 ministros, 7 governadores, além de vice-governadores e prefeitos de capitais. Esse exército será chamado a agir para tentar neutralizar a oposição, se for mesmo instalada a CPI do Apagão Aéreo, que depende de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Tantos agrados esperam a compensação. Na forma de cargos que movimentam muito dinheiro.

O PMDB não abre mão da Eletrobrás, que neste ano vai administrar R$ 130 milhões em investimentos. Para a presidência será indicado Carlos Nascimento, atual presidente da Eletronorte, ligado ao senador José Sarney (PMDB-AP). Para a Eletronorte, que terá R$ 935 milhões para investir neste ano, o PMDB defende o nome do ex-senador Luiz Otávio, mas dificilmente conseguirá nomeá-lo.

A Petrobrás continuará com o PT. O PMDB se contenta com a diretoria de Exploração, uma das mais importantes. O candidato à vaga é o ex-deputado Moreira Franco, também indicado para presidente da BR Distribuidora. Estes dois postos controlam cerca de R$ 10 bilhões.

GRUPOS

A necessidade do governo em ouvir os pleitos do PMDB se deve ao fato de que a unidade do partido, criada para enfrentar o PT, gerou novas demandas.

¿Se você pegar os cargos do PMDB, pouquíssimos são da Câmara. Até por incompetência nossa, que vivíamos divididos em grupos, os deputados não tinham indicações importantes, com exceção de um ou outro¿, afirma o líder da bancada na Casa, Henrique Eduardo Alves (RN). O deputado pretende se acertar com os senadores do partido.

DE OLHO NO SEGUNDO ESCALÃO

Petrobrás: O PT preside a estatal e o PMDB da Câmara quer indicar o ocupante da diretoria de Exploração. Candidato é Moreira Franco, ex-deputado. Investimento em 2007: R$ 28,2 bi

Funasa: O cargo de presidente está prometido para o ex-deputado José Priante (PMDB-PA), primo de Jader Barbalho (PMDB-PA). Há no PMDB quem defenda o nome do presidente interino, Danilo Forte. Investimento em 2007: R$ 1,5 bi Furnas: A bancada federal do PMDB do Rio indicou o ex-prefeito Luiz Paulo Conde para a presidência. O PP quer uma diretoria da estatal. Investimento em 2007:R$ 1,2 bi

Eletronorte: Para o cargo deverá ser indicado alguém ligado aos peemedebistas José Sarney (AP) ou Renan Calheiros (AL). Renan gostaria de ver no posto o ex-senador Luiz Otávio (PMDB-PA), seu amigo pessoal. Investimento em 2007: R$ 935 mi

CEF: O PMDB já tem uma das 11 vice-presidências do banco e a bancada da Câmara pede outra. Investimento em 2007: R$ 805 mi (habitação e saneamento)

BR Distribuidora: Os peemedebistas Michel Temer (SP) e Henrique Eduardo Alves (RN) trabalham para indicar o novo presidente. Investimento em 2007: R$ 793,9 mi

Correios: O PMDB da Câmara disputa a presidência da estatal. Duas das diretorias mais importantes contam com indicados do deputado Fernando Diniz (PMDB-MG). Investimento em 2007: R$ 637,9 mi

Portos: Lula tirou a administração da área do Ministério dos Transportes, sob o comando do PR. Investimento em 2007: R$ 600 mi (inclusive privados)

Transpetro: Sérgio Machado (PMDB-CE), aliado de Renan, deve ficar no cargo. Investimento em 2007: R$ 465 mi

Codevasf: Estatal mais importante vinculada ao Ministério da Integração. A presidência está com o PSB de Ciro Gomes, mas o PMDB do novo ministro Geddel Vieira Lima quer o cargo. Investimento em 2007: R$ 426 mi (em obras)

Gasoduto: O PP reivindica a presidência da TBG, a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. Investimento em 2007: R$ 186 mi (obras)

DNOCS: A diretoria-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas, ligado ao Ministério da Integração, é ocupada por um técnico do PT cearense, mas Geddel quer tirá-lo. Investimento em 2007: R$ 135 mi

Eletrobrás: Comando do PT em 2006. O novo presidente deve ser Carlos Nascimento - ligado a Sarney -, atual presidente da Eletronorte. Investimento em 2007: R$ 130 mi

BNB: A presidência está com o PT e o PMDB quer uma das seis diretorias. O PSB também quer a presidência. Investimento em 2007: R$ 105 mi.